Separei aqui algumas lições de liderança que aprendi com meus pais atípicos. Mas vamos começar do começo, a minha mãe e o meu pai, a quem amo profundamente, tiveram um papel fundamental na minha infância e no meu desenvolvimento. Eles buscaram incansavelmente o diagnóstico correto para mim. Isso foi crucial, porque saber o que se tem direciona os melhores cuidados.
Quando nasci, inicialmente, suspeitaram que eu tinha transtorno do espectro autista (TEA). Se eu tivesse sido tratado como autista, talvez não estaria aqui hoje dialogando com vocês. Só quando o meu irmão nasceu, é que fui diagnosticado corretamente como surdo. A partir desse momento, os meus pais procuram as melhores soluções culturais, dispositivos e tecnologias que ajudassem no meu desenvolvimento.
🌟 Cultura e Liderança:
A minha mãe, por exemplo, usava batom para que eu pudesse aprender a ler os seus lábios. Aprendi a falar através da vibração, e com as ferramentas certas, fui capaz de evoluir. Por buscar mecanismos de apoio para o meu desenvolvimento, ela acabou testando, aprendendo, desaprendendo, evoluindo em muitas técnicas. Na escola, tive muitas dificuldades, mas foi a minha mãe que me mostrou o caminho para ser autodidata, para questionar, aprender e crescer.
Ela buscou sempre os melhores aparelhos auditivos da época para que eu tivesse as mesmas oportunidades que os outros. E o que isso tem a ver com liderança?
Um bom líder faz exatamente o que a minha mãe fez: identifica as necessidades de cada pessoa, conhece o seu potencial e oferece os recursos certos para o seu desenvolvimento. Um exemplo claro é o meu irmão, que tem o mesmo diagnóstico que eu. Usamos aparelhos auditivos semelhantes, mas a forma como nos comunicamos é muito diferente. A minha mãe entendeu essa diferença e soube adaptar-se a cada situação.
🌱🤝 Autonomia e Capacitismo:
Com o tempo, porém, o papel de um líder – assim como o de um pai ou mãe – também é dar espaço para que a pessoa ganhe autonomia. Muitas vezes, tudo o que queremos é uma oportunidade para mostrar o que somos capazes de fazer. Quando essa oportunidade nos é negada, mesmo com boas intenções, isso pode tornar-se capacitismo.
Lembro-me de um momento marcante quando voltei para Campinas. Estava descascando uma laranja, e a minha mãe rapidamente tirou-a da minha mão para descascar por mim, achando que eu pudesse me machucar. Até hoje, não sei cortar uma laranja corretamente. Corto-a em quatro partes porque nunca desenvolvi essa habilidade, já que sempre alguém fazia por mim.
O mesmo acontecia nas consultas médicas. Minha mãe marcava as consultas, acompanhava-me e falava por mim. Isso me impediu, de certa forma, de desenvolver a minha capacidade de me expressar nessas situações e em alguns casos até me acomodei.
A grande lição para os líderes?
Ofereça as ferramentas, acompanhe de perto no início, mas permita que as pessoas cresçam e ganhem independência. O excesso de proteção, mesmo que bem-intencionado, pode acabar limitando o potencial de alguém.
Muitas vezes, as pessoas me perguntam como é desenvolver a carreira de uma pessoa com deficiência. O segredo está em três etapas simples:
- Diagnóstico correto: compreenda profundamente as necessidades de cada pessoa. 🔍
- Ferramentas e suporte: ofereça os recursos e apoio necessário para que ela se desenvolva. 🛠️
- Oportunidade: dê espaço para que essa pessoa possa mostrar o que sabe fazer. 🌟
Capacitismo não é apenas o que dizemos, mas também o que fazemos.
Muitas vezes, não acreditamos que uma pessoa seja capaz, e isso reflete-se nas nossas ações. A forma como falamos, elogiamos ou limitamos é crucial para quebrarmos esses vieses. Mas mais do que palavras, são as nossas ações que fazem a diferença.
Por isso, é essencial dar confiança e oportunidades reais, para que todos(as) possam atingir o seu máximo potencial. 🚀
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