– Moço, me dá dois pacotes de pilha AA
O dono da mercearia, cansado das pegadinhas dos moleques da rua, já tinha visto de tudo, mas essa era novidade. Como é que esses moleques estavam fazendo aquela voz ressoar, sendo que ele era a única pessoa ali dentro do estabelecimento?
– Ô moço, dá umas pilhas aí!
Moleques engenhosos, ele tinha que admitir, devem estar aprontando alguma comigo hoje! De onde vinha aquela vozinha fanha? Devia ser um rádio. Walkie talkie, talvez. Uma gravação.
– Ôôô, seu moço, dá logo esse trem de pilha!
O dono da mercearia espicha o pescoço por cima do balcão e… eita! Lá estava ela, minha amiga Maliova. Uma pessoinha bem inha, não era pegadinha, bem menor que o balcão.
Maliova saiu pra comprar pilha, porque sua pilha estava acabando e Maliova despilhada não é Maliova. São necessários alguns volts para manter aquela falação toda, todo dia, toda hora. Um blá blá blá energizado pelo poder alcalino das baterias portáteis.
– Pra que você quer pilha, minha filha?
– Ôôô, seu moço, não complica! Para tudo! E para nada. Para fazer café com leite, assar pão de queijo, cortar queijo branco, pra fazer qualquer trem que precise ser feito. Dá aí, vai. Dá aí. A pilha. Dá aí. Por favor!
– Tudo bem, tudo bem, aqui está.
Maliova puxou uma cordinha no seu umbigo e abriu uma portinhola na barriga. Retirou as pilhas velhas e colocou as recém compradas.
– Valeu, seu moço! Bom dia para você.
Lá se foi, saiu pela mercearia saltitando, como uma bolinha de tênis que quica por aí, simplesmente porque é divertido quicar.