Aproveitando a polêmica em torno da música ‘Masculinidade’, do Tiago Iorc, resolvi escrever muito menos sobre o que acho mas o que vi e escutei. Afinal, quem me conhece no insta sabe que “Gosto é do estrago!”
Ouvi a música e achei interessante a temática mas confesso que não tinha me atentado nem analisado a letra com tamanho afinco. Foi quando vi um post da Vania Ferrari (MARAVILHOSA) pedindo opinião sobre a música. Achei ótimo, porque teria a chance de passear por outros olhares, além dos meus, e ver coisas que talvez não tivesse visto. Dos 30 e tantos comentários, na hora que olhei, apenas 6 eram de homens os quais todos se identificaram. Já as mulheres, a grande maioria amando, e poucas, no outro ponto extremo, vociferando que é mimimi de um homem branco.
Busquei alguns homens que admiro e respeito para ouvir a opinião, lembrando que há um questionamento sobre a música na perspectiva que essa “nova masculinidade” que circula, mascara e tenta justificar anos de violência se colocando num papel de vítima da sociedade.
Pontos que ouvi destes homens (que não representam a maioria e estão apenas fazendo um exercício de reflexão que foram convidados):
_ Qual meu lugar? Percebo um peso de “tudo que eu disser será usado contra mim”, especialmente num tema tão sensível. Numa sociedade construída machista que até anteontem ensinava que homem é forte, violento e viril, agora tem que desconstruir quem é, para dar conta de algo que ninguém ao certo sabe o que é.
_ O que é ser homem? A sociedade foi construída com papéis definidos e o papel masculino está distante de um ponto central da natureza humana: o amor. “O homem é jogado nesse lugar de ser escroto. E essa, para mim, não é a natureza da pessoa, isso tem consequências. A gente não sabe qual é o lugar do outro, de mulheres ou homens.” A fórmula de “ser homem” não funcionou, porém essa desconstrução que o Tiago propõe, já engessa e define para um outro lado.
_ Vulnerabilidade e Identificação: há uma identificação com dores e desafios trazido na música sem uma obrigatoriedade de se definir por isso. Cada um se percebe em pontos diferentes da sua desconstrução de masculinidade.
_ Obra artística: numa escala de agradabilidade (? rsrsrs) foi de “preguiça” a “como uma música do Djavan” mas poderia ser mais curto – sensação de “ok, já entendi… mas aí a música tem mais de 6 minutos!!!” Ele fez uma performance artística, isto tem um valor. No entanto, não pode se tornar referencial da discussão sobre as masculinidades. Inclusive músicas assim, explícitas demais, acabam falando só com quem já concorda com o tema, “é aquele prazer de você ficar ouvindo aquilo que já acredita.” Poderia ter trazido os mesmos pontos de outra forma pois assim está carregada de abusos, vieses e discriminação.
_ A polêmica: A discussão sobre as masculinidades nasce de contestação, questionamento e reivindicação de anos de mulheres lutando pelos seus direitos. Nenhum homem acordou um belo dia e do nada achou que estava precisando repensar seu privilégio. Inegável que é uma construção social, porém, não pode se encerrar numa constatação de que sou assim, por conta do meio, um olhar vitimista sem se colocar como agente transformador. “Como diz a letra: então vamos para um outro lugar, vamos deixar isso. Mas deixar isso para que, qual lado? A roda já está inventada, o feminismo está ai. Sim vamos discutir entre nós homens essa projeção, essa forma utópica de tentar se colocar num lugar que nunca foi.” A grande questão que me parece, por esses olhares emprestados, é a superficialidade ou simplificação de um tema profundo e doloroso. É necessário aprofundar. “Existe uma crise do masculino. Mas essa crise do masculino é muitas vezes uma tendência de voltar ao passado porque a violência contra a mulher vem aumentando e vem se refinando. Tiranicamente atingindo muitas mulheres de outras formas. Agora não é mais possível agredir ou bater. Eu agrido de um outro jeito.” Outras formas de violência surgem mais sutis e dissimuladas: interrupções ou cobrar que assuma um papel supostamente igual ao do homem sem ter o homem assumindo os papéis historicamente designados para ela.
_ O contraponto: Se a gente não nomeia problemas, a gente não encontra soluções. Uma coisa é a pessoa falar dos problemas, outra coisa é dizer ‘eu sou assim por causa disso, me aceite.’ Isso é uma crítica à sociedade e não às mulheres. O machismo tem efeitos negativos para ambos os lados e ele está trazendo a perspectiva do homem sem comparar com o que significa para as mulheres. “Hoje, temos ouvido mais as mulheres nessa questão, o que é bom. Mas é 50% do problema. Tem o lado do homem e talvez as pessoas achem que os homens são felizes sendo assim, mas não são.”
_ O autor: é importante lembrar que essa é uma expressão de uma pessoa e pode (ou não) refletir seu processo e momento. Não cabe julgar o momento e percepção dele. Provavelmente, a música tem maior aderência com o público que já é fã. Dificilmente um homem que precisa reconstruir e rever sua masculinidade, nem o autor nem a música conversa com ele.
Como disse um desses homens que me emprestou suas lentes; pensamos muito melhor a dois. Gostar ou não gostar, o importante são as reflexões que traz e a única opinião que posso dar é que essa troca saudável e empática é o maior ganho que podemos ter.
E você? O que pensa diante de todas essas ideias?
*Imagem da capa: Tiago Iorc via Behance