Desde pequeno, Maurício tinha a cara fechada. Estava sempre com cara de bravo e quase nunca falava. Na escola, ficava de longe olhando os outros alunos brincando e, quando alguém olhava para ele na tentativa de chamá-lo para brincar, ele fechava ainda mais o semblante e fazia um olhar que dava muito medo. Não era a toa que ele tinha fama de mau na escola. Mas se você perguntar, nunca ninguém viu o Maurício brigando. Muito pelo contrário, se ele via alguém sendo injustiçado, corria para tomar partido. E ele nem precisava falar nada nem ameaçar. Só de chegar perto com aquela cara… Assunto resolvido.
Era gato na árvore, senhoras querendo atravessar a rua, cachorro perdido no bairro. Por trás daquela cara brava, tinha um coração enorme que não pensava duas vezes em ir ajudar. A única coisa é que por mais que as pessoas tentassem, Maurício insistia em ficar sozinho. Achava que lidar com as pessoas era muito difícil. Ele não conseguia entender porque as pessoas falavam “vãmarcá” se nunca iam se encontrar de verdade, porque arranjavam desculpas alimentando esperança ao invés de serem honestas, porque diziam que estavam no trânsito se ainda nem tinham saído de casa.
O que ele conseguia entender era um pedido legítimo de socorro ou ajuda. Por isso, resolveu entrar para o corpo de bombeiros. Mas não contava que lá, mesmo com toda cara de mau que tentava manter, as pessoas adoravam sua companhia e o queriam sempre por perto. Porque para eles, assim como para o Maurício, trânsito não é desculpa, um pedido de socorro é realmente urgente e um chamado é para ser atendido.