Jaci entrou na sala de aula confiante. Apoiou sua mochila na carteira e de dentro dela tirou seu caderno. Sua professora deu um sorriso e mexeu a cabeça como se dissesse algo para a menina, mas sem dizer uma palavra. Jaci caminhou até a frente da sala, respirou fundo, e começou sua apresentação para a classe toda, que quieta prestava atenção. O tema era o Dia do Índio e preferiu começar com uma sequência de palavras já bem conhecidas pelos colegas.
Butantã, tucano, cipó, carioca, Copacabana, Curitiba, Capivara, gororoba, jabuti, jacaré, mutirão, e mais um monte, sua lista era enorme. Explicou que TODAS essas palavras tinham origens de línguas nativas brasileiras.
Butantã: Do Tupi-Guarani: bu (ibi) = terra; tatã (atã, tantã) = muito duro.
Tucano: Do Tupi-Guarani: tu-can : que bate forte.
Cipó: Do Tupi-Guarani: ici-fila; pó-fileira. Nome genérico de todas as plantas de hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira.
Carioca: Do Tupi-Guarani: kari`= branco; oka = casa. Casa do branco.
Copacabana: De origem quechua. Significa “olhando o lago”. A palavra original é kupa kawana.
Curitiba: Do Tupi-Guarani: Curi = pinhão; Tiba = lugar.
Capivara: Do Tupi-Guarani: “kapii’ guara” – comedor de capim.
Gororoba: Do Tupi-Guarani: guara – arvore; roba – amargo.
Jabuti: Do Tupi-Guarani: j-abu-ti=o que nada respira.
Jacaré: Do Tupi-Guarani: jaeça-caré = o que olha de banda.
Mutirão: Do Tupi-Guarani: pitibõ, popitibõ, picorõ = ajudar.
De acordo com a professora Ana Suelly Cabral, pesquisadora das línguas indígenas, cerca de 80% das palavras que nomeiam as plantas e bichos brasileiros são oriundas do Tupinambá, o mais conhecido idioma nacional nativo. O total de línguas indígenas no Brasil é de 180.
– Imagine só – refletia Jaci em voz alta para seus colegas -Hoje aqui no Brasil falamos o português, mas antes de sermos colonizados por Portugal eram mais de cen-to e oi-ten-ta línguas!”
Foi no ano de 1758 que Portugal decretou que o Português seria o idioma oficial do Brasil. O que na opinião de Jaci, foi um desrespeito com as culturas, tradições e costumes dos nativos do Brasil. Mantiveram algumas palavras e costumes, mas a maioria foi colocado de lado e nunca mais mencionado.
Jaci contou também, que sua avó Irani, ainda vive na aldeia Guarani Tenondê Porã, em Parelheiros, onde vivem cerca de 1,2 mil guaranis, que fica a 70 quilômetros da Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, mas ela realça “não tem metrô que chegue até lá!”.
Jaci ainda explica que são terras que foram recentemente demarcadas para o usufruto exclusivo da aldeia. Contou que a aldeia oferece visitas previamente agendadas, trilhas guiadas por moradores indígenas, coral apresentados pelas crianças, palestras dentro da casa de rezas sobre os costumes Guaranis e exposição e venda de artesanato. Ela conta que sua avó gosta de receber pessoas por lá, porque é importante disseminar a cultura indígena que também faz parte da história do nosso país.
Um amigo de Jaci, o Thiago levantou a mão e disse que queria propor uma excursão à aldeia e a professora Carla achou uma ótima ideia. Vai sugerir à diretora na próxima reunião da escola. “Quem quer ir junto?”, pergunta a professora. A classe toda levanta a mão e muitas conversas começam, todos já animados para o dia da visita.
Jaci então terminou sua apresentação dizendo-se preocupada com a preservação não só das línguas indígenas, mas também da história, cultura, costumes e terras, que por direito são dos índios, nativos desse país. E é nosso dever mantê-los vivos. Disse que precisamos valorizar mais o nosso povo nativo, as heranças e origens através do conhecimento e informação. Por fim, contou que seu nome Jaci, o nome da sua avó Irani e de sua mãe Juraci também são nomes de origem Tupi.
Jaci : Lua.
Irani : Rio de mel.
Juracii : Boca materna.
fontes:
Projeto São Paulo City
Portal EBC