Nascemos prontos para aprender – uma reflexão do nosso potencial para sermos empáticos

Um bebê não se compadece ao ouvir alguém chorando. Já notou? Por mais que os adultos se esforcem em romantizar, a verdade é nós não nascemos com empatia – embora venhamos equipados com o potencial para ser empáticos. Assim como a mulher não nasce mãe, homem não nasce pai e a criança não vem ao mundo sabendo mamar, dormir, amar. A gente aprende.

É preciso falar essas coisas, porque é grande o pacote de projeções e ilusões que coletamos ao longo da vida. Não só sobre infância e maternidade ou paternidade, mas relacionamentos, respeito, diversidade…

Na prática, haja escuta, autoconhecimento e consciência para não reproduzir padrões rançosos que há séculos nos aprisionam.

Vejo crescer uma geração que considero disparadamente melhor e mais descolada que a minha em vários aspectos. Por exemplo, em relação a gênero, orientação sexual e igualdade de direitos. A Tereza, de 5 anos, corrige seus pais quando perguntam se todos os professores da escola foram à festa. “Todos e todas”, ela responde. Marina, também de 5, passou com a avó no meio de uma manifestação LGBT e achou a coisa mais sem graça que pessoas tivessem que ir às ruas pelo direito de se amar. Cada um ama quem bem entender, não é óbvio? Os irmãos Bento e Tito, 5 e 3, vestem galochas douradas, usam calça legging e pintam as unhas quando têm vontade. Na minha infância não era assim.

“Mas, veja, isso se construiu com adultos atentos e sensíveis. Que provavelmente tiveram que ver e rever seus próprios bichos-papões internos. E que, por sua vez, aprendem muito com seus filhos, sobrinhos, netos e alunos, quando os enxergam e os escutam. Quando abrem espaço para o diálogo.

Sou comprometida com a vida das crianças. Confio nelas e no potencial do que podemos criar juntos, navegando nos mares da imaginação. Defendo que elas sejam reconhecidas em sua essência individual e única. Que sejam livres. Mas, gente, não tem mágica. As velhas estruturas, que estão dentro de nós, não têm botão de desliga. Elas seguem reverberando e criando realidades. É por isso que, como adultos, precisamos amar muito e ocupar nosso lugar com muita consciência.

O poeta mato-grossense Manoel de Barros, um conhecedor da natureza e das infâncias, disse que a visão tem o sotaque das nossas origens – aliás, ele ganhou uma linda homenagem do programa Ocupação Itaú Cultural, aberto para visitação em São Paulo até abril de 2019.

Penso em como as informações armazenadas em nosso sistema estabelecem nossa visão de mundo: emolduram nosso próprio mundo.
Felizmente, o correr da vida traz a possibilidade de experimentar outros sotaques e novos olhares. De praticar novas línguas. Afinal, nascemos prontinhos para aprender.

Ilustração – Sally Edelstein

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