Um importante movimento vem acontecendo em relação aos homens. Muitas iniciativas voltadas para a reflexão sobre “o que é ser homem” e sobre o papel tóxico do machismo sobre os meninos vêm crescendo em vários países. Ainda que timidamente, este movimento é reflexo de décadas de estudos sobre a masculinidade e sobre a influência fundamental do pai no desenvolvimento de uma criança. Além disso, os movimentos feministas desencadearam novas reflexões e ações sobre a sociedade, empurrando os homens a repensarem suas atitudes e visões de mundo.
Estudos sobre a relação pai-filha no desenvolvimento de transtornos alimentares em meninas, depressão pós-parto do pai, ausência paterna e dependência de videogames, o papel do avô na vida de uma pessoa, vício em pornografia, entre outros, revelam que ser privado de uma figura paterna predominantemente saudável e equilibrada tem um impacto profundo no ser humano.
Uma das experiências mais desafiadoras e ricas que eu tive quando ainda era psicóloga clínica foi quando trabalhei em um núcleo de atenção à violência doméstica no final da década de 1990 no Rio de Janeiro. Além de atender crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica, eu também atendi alguns adultos que cometiam estas violências. Um caso me marcou até hoje: um pai, negro, americano, alto, forte, 60 e poucos anos, veterano da guerra do Vietnã, veio morar no Brasil e acabou engravidando uma garota de programa, que foi embora e, deixou o filho com ele. Ele tinha sido denunciado ao Conselho Tutelar por negligenciar o seu filho de 9 anos. E eu tive a difícil tarefa de ajudar este homem marcado por várias negligências e atormentado pelas memórias da guerra a se tornar um pai melhor para que pudesse manter a guarda do filho.
Eu que sempre me interessei pela vida emocional dos meninos, desde então mergulhei nos estudos sobre o papel do pai na formação de uma criança, especialmente no desenvolvimento dos meninos. Hoje, mãe de um menino, me preocupo ainda mais com este tema e levo esta reflexão para muitos trabalhos que faço como consultora de Inovação em Psicologia e Educação.
O livro The Boy Crisis, (A crise dos meninos) do John Gray e Warren Farrell – pai do movimento masculino – nos traz muitos alertas importantes e trata, dentre outras coisas, das raízes do sofrimento masculino, apontando as três maiores causas: meninos privados de pai em casa, meninos privados de professores homens na escola, meninos com um “vazio de propósito” na vida.
O recém-lançado documentário O Silêncio dos Homens revela, com simplicidade e, ao mesmo tempo, profundidade as dores disfarçadas de violência que assolam muitos homens.
Documentário The Mask you live in (A máscara onde você vive – 2015)
Iniciativa Guerreiros do Coração– grupo de homens que se reunem para refletir sobre o que é ser homem e exercitar rituais de masculinidade.
Livro Ainda existe a cadeira do papai? Conversando sobre o lugar do pai na atualidade”, das autoras Elizabeth Polity, Marcia Zalcman Setton e Sandra Fedullo Colombo.
O vídeo “War on Boys” – Guerra contra os meninos– 2014 – nos desafia a pensar sobre como as escolas equivocadamente tratam os meninos. Muito interessante!
Assista ao trailer:
Nossos meninos estão em crise: na saúde mental, na educação, no trabalho e na paternidade. Os meninos de hoje serão maridos que cuidarão de suas esposas, pais que cuidarão dos seus bebês e filhos que cuidarão de seus próprios pais na delicada jornada para o fim da vida.
Precisamos garantir direitos iguais aos meninos e meninas, respeitando as diferenças entre os gêneros e as características de cada indivíduo. Só assim as novas gerações de meninos e meninas poderão ser amigos e parceiros na desafiadora jornada da vida.
Foto de Tim Mossholder.