Já ouviu falar sobre o Avesso da Pele? Na escola dos meus filhos começou um movimento antirracista. Ainda longe de ter tomado forma mas com pais dedicados a estudar o tema e ajudar a escola em práticas antirracistas, temos acompanhado a mudança do conteúdo didático e paradidático.
Posso dizer que em 2018, quando as crianças entraram na escola, não tinha nenhum livro paradidático com a temática de raça. Não pelo menos nas séries deles na época. Hoje, além da abordagem sobre o tema ter mudado, tem diversos livros importantes da literatura de autores negros e que tratem do tema com a seriedade que merece.
Um desses livros é O Avesso da Pele, um romance sobre um rapaz negro que vive no sul do país que com a morte do seu pai numa abordagem policial, passa a resgatar a sua história e de sua família. A narrativa traz o dia-a-dia do preconceito, às vezes escancarado, às vezes sutil. Mas que marcam a trajetória das pessoas negras do Brasil.
De alguma maneira a narrativa escancara causa e efeito de uma sociedade marcada pelo racismo e discriminação. O quanto reforçamos e colocamos as pessoas nos lugares que achamos que devem ocupar. Sem surpresa, mas por trazer textualmente o que acontece, este trecho me marcou:
“(…) Saharienne concordou, diesse que os espaços culturais de Porto Alegre nunca foram atrativos para o público negro. Perguntei por quê, e ela respondeu que talvez os negros não se sentissem à vontade em entrar em determinados espaços, quando como, por exemplo, um mulher negra decide entrar numa loja voltada para a classe média alta. Essa mulher só vai entrar se ela puder comprar alguma coisa lá dentro, entende? Ou seja, ela não pode se dar ao luxo de simplesmente entrar, olhar e sair. Mas por quê?, perguntei. Porque ela simplesmente não pode. Porque é como se ela estivesse confirmando os estereótipos de que pessoas negras não têm grana. E, mesmo que elas não tenham, quando entram numa loja como essa, é preciso que mostrem que elas também podem comprar ali. Isso talvez pareça bobo, mas acho que conecta com a sua pergunta. Não há negros no cinema porque talvez eles carreguem consigo o sentimento de terem de assistir um filme burguês branco e não gostarem, assim como você.”
E assim, é importante lembrar os espaços de privilégio que cada um ocupa e como podemos transformá-los.