Dezembro de 2017. No hemisfério Sul, o final da primavera já dava indícios de um verão ameno. Teríamos o sol brilhando num céu azul sem riscos cinzas no horizonte, dias longos e claros, com chuva no final da tarde para regar as terras e nos dar noites refrescantes. Ninguém passava fome, porque não havia escassez. Ninguém passava vontade, porque não havia desigualdade. Não haviam discursos raivosos nas redes sociais, porque por mais que não entendiam como o outro pensava, existia a aceitação. Não existia conformismo, mas existia diálogo.
EXPECTATIVA x REALIDADE
Na vida real de dezembro de 2017, existiam 815 milhões de pessoas que passavam fome no mundo. Pessoas como eu, você ou quem amamos. Em dezembro de 2017, o mar estava engolindo a Praia da Macumba no Rio de Janeiro. O superaquecimento global, causado por mim, por você e quem amamos, não poupou nossos banhos de sol. Pessoas como eu, você ou quem amamos, viviam num ambiente que não tolerava a cor de uma pele, uma opção de amor, um posicionamento político ou a identificação de uma religião. Gritávamos em CAPS LOCK palavras consideradas crime, praticavamos crimes e compactuavamos com eles.
O documentário Free Angela & All Political Prisoners [Liberdade para Angela & Todos os Prisioneiros Políticos] dirigido por Shola Lynch, mostra a intolerância ignorante que pairava em 1970. Angela Davis, mulher, negra e comunista era a encarnação perfeita do “inimigo das pessoas de bem”. A perseguição à ela também era perfeita para espalhar o medo na comunidade negra que estava caminhando fortemente na conquista de seus direitos.
Ok, foi em 1970 e podemos pensar que muitas coisas mudaram, afinal o país teve até um presidente negro. Mas é triste perceber o quanto demorou para isso acontecer, como disse o escritor James Baldwin no documentário I Am Not Your Negro [Eu Não Sou Seu Negro], retrucando a previsão de Robert Kennedy que disse em 1968 que os Estados Unidos teriam dentro de 40 anos, um presidente negro.
Aconteceu? Aconteceu. Mas essa intolerância não é o passado, é o presente. Pois no presente inimigos perfeitos continuam sendo criados para espalhar medo e fazer com que as minorias se calem. Me refiro à minorias que deveriam ter seu reconhecimento, mas que tratam-se de maiorias oprimidas ontem e hoje.
No entanto, o passado oferece exemplos de uma boniteza rara.
Entre 1938 e 1939, um homem salvou 669 crianças de campos de concentração nazista. Arriscou sua vida e salvou com êxito 669 crianças da Tchecoslováquia durante o Holocausto, garantindo a passagem segura de todas para a Grã-Bretanha. E mais, como um verdadeiro herói, deixou o feito no coração dele.
Nesse homem, Sir Nicholas Winton, a força mais poderosamente perturbadora do mundo que só fica atrás do amor (frase é da professora canadense Anita Nowak), estava nele.
Ah, a força?
EMPATIA, a habilidade de se colocar no lugar do outro.
Voltando à atualidade, podemos aproveitar e, comemorar juntos em 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
A escolha dessa data foi instituída em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Abalados com as experiências das Guerras Mundiais anteriores, a Declaração Universal marcou a primeira ocasião em que os países chegaram a um acordo sobre uma declaração abrangente de direitos humanos inalienáveis.
A Declaração Universal começa reconhecendo que “a dignidade é inerente à pessoa humana e é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Além disso, declara que os direitos humanos são universais independentemente de cor, raça, credo, orientação política, sexual ou religiosa.
A Declaração Universal inclui direitos civis e políticos, como o direito à vida, à liberdade, liberdade de expressão e privacidade. Ela também inclui os direitos econômicos, sociais e culturais, como o direito à segurança social, saúde e educação.
Ela pode existir para mim, para você, para quem amamos e para quem nem conhecemos. Vamos comemorar e não vamos nos conformar com a ignorância atual. Há esperança!