Em 1925, ocorreu a Conferência Mundial para o Bem-estar da Criança, em Genebra, e nela, se instituiu o dia 1º de junho, como o Dia Internacional da Criança. Anos mais tarde, com o mesmo objetivo de garantir direitos e proteção, a ONU reconheceu o dia 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança, deixando registrado que todas as crianças – todas elas – independente da raça, cor, credo, religião e sexo, devem receber amor, carinho, educação e alimentação.
No Brasil, a data já havia sido criada desde 1924 mas não “pegou”. Ninguém considerou esse dia como Dia das Crianças. Segundo consta, só aconteceu mesmo quando o departamento de marketing de uma grande empresa de brinquedos resolveu se apropriar do tema e misturar direitos com consumo e reflexões com objetos.
A estratégia deu tão certo que outras empresas copiaram e o dia das crianças, que era pra ser um marco na defesa dos direitos e garantias dos nossos pequenos, passou a ser sinônimo de brinquedos, brinquedos e mais brinquedos.
Infelizmente, muitas pessoas entraram na onda de que dar um brinquedo para crianças significa que elas se sentirão amadas, respeitadas e felizes. A verdade é que crianças adoram brinquedos e ganhar presentes é muito bom em qualquer idade! Sem falar que presentear também é muito bom.
Muitas pessoas acreditam que presentear no dia das crianças é importante, faz sentido e deixa os seus pequenos felizes, fortalecendo ainda mais os laços e as memórias que eles carregarão pro resto da vida. Minha intenção não é julgar nem ser intolerante. É simplesmente chamar a atenção para o excesso, para os direitos das crianças e para o nosso dever como pais, responsáveis e educadores. O dia das crianças vai muito além de um brinquedo novo ou uma roupa da moda. O dia das crianças é sobre cuidado, direitos e a importância de garanti-los a todas as crianças do planeta.
No dia das crianças, assim como em outras datas comemorativas eleitas pelo comércio, temos o dever de proteger nossas crianças da enxurrada de comerciais e propagandas que acabam por convencê-los da necessidade do desnecessário. O Dia das Crianças está chegando e assim, aumentam o número de ofertas de brinquedos e afins que invadem os canais de programas infantis o que torna quase impossível proteger nossas crias dessa conversa.
Acredito que o consumismo infantil é extremamente prejudicial à infância, ao brincar e à formação da personalidade das crianças. Armários entupidos de brinquedos prontos e estruturados aliados à pressão dos comerciais que incentivam o acúmulo de objetos tiram pouco a pouco a capacidade dos nossos pequenos de brincar, exercitar a imaginação e criar.
“Brincar é uma experiência e busca de descobertas permanentes com a vida, com a natureza, com a liberdade e a espontaneidade”. – Luiz Fernando Vieira Trópia – sociólogo, folclorista e produtor cultural.
Conversar é sempre uma ótima opção para que as crianças possam aprender a lidar com a enorme quantidade de informação que elas têm hoje, tantos desejos produzidos e a frustração de muitas vezes não se conseguir o que se quer, além de ser a melhor maneira de construir valores e ensinar nossos filhos a refletirem e questionarem sobre o mundo. É urgente ensinar nossas crianças a consumir de forma saudável e consciente. Sem ceder, ao menos com tanta frequência, aos apelos excessivos e descabidos da sociedade em que vivemos. Proteger é respeito, cuidado e amor!
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> Artigo postado originalmente em 12 de outubro de 2018 e repostado para o Dia Mundial das Crianças 12 de outubro de 2024.