Essa quinta é muito especial. É um daqueles dias que todo mundo está ansioso, esperando acabar para chegar amanhã. Sabe que que tem dia 14 de abril? É aniversário da Carla!
Todo mundo ansioso, só se fala nisso. Alguns já começaram os preparativos. O Tung é responsável pela @radiocarlotas e está selecionando as playlists, a Dona Beta não vence fazer bolos e guloseimas e o Anexim já está treinando recitar seus poemas. E você já está preparado para festa da Carla? Não venha me dizer que você não a conhece, todo mundo sabe dela. Com certeza, você já a viu por aqui. Seja nos bate papos no YouTube, seus textos no Jornal Carlotas e, CLARO, em cada um dos personagens que habitam Carlotas. Pois é! Ela é a mão que conduz o pincel. Como se isso, por si só, já não fosse incrível – traduzir pensamentos em desenhos – ela também é responsável pelas ideias mais malucas, menos prováveis mas mais sensacionais que já ouvi.
Gosto de lembrar de quando nos conhecemos, porque o tempo passou, e a única diferença é que os sonhos que eu ouvia dela, agora são realidade.
Não raro, às oito da manhã, em um escritório sisudo, entrava a Carla: calça xadrez, camisa estampada e tênis all-star. Cantando, óbvio! Como era leve sua alma, parecia que ela flutuava.
Trabalhávamos no mesmo departamento, juntas. Toda manhã, pegava seu caderninho e começávamos a listar e revisar as tarefas do dia. Em pouco tempo, estávamos perdidas em sonhos, histórias e muita risada.
Ainda hoje, MUITOS anos depois, quando estou com a Cá, tenho a mesma sensação das nossas primeiras conversas. Conforme ela vai falando, seus olhos, mesmo escondidos atrás da armação colorida dos óculos, brilham e iluminam seus pensamentos. Parece que consigo ver, lá dentro da sua cabeça, um monte de personagem colaborando, pintando e construindo todas essas suas ideias.
Nada é impossível, tudo pode, sempre dá-se um jeito e todos são bem vindos. Olha, eu até tento trazer ela um pouquinho para o chão, mas, quando me dou conta, já estou voando por aí com ela, fazendo sonho virar realidade.
Ela odeia falar em público, afinal fala com as mãos, através de tintas e canetinhas. Diz que não, mas é uma excelente professora. A Cá me ensinou um tanto de coisas que nem imaginava que podia. Me deu de presente a chance de aprender sobre a beleza da imperfeição e construir significado para palavras bonitas que pouco faziam sentido antes. Me ajudou a transformar preto e branco em arco-íris e sonhar alto. E mais que sonhar, mudar o que não estava bom para algo melhor.
A Carla nunca me contou como tirou Carlotas da cabeça e colocou no papel mas eu fico aqui imaginando que deve ter sido mais ou menos assim:
“Huuum, que fome… Imagina eu poder pedir para a geladeira me fazer um bolo! Ainda bem que está na hora do lanche aqui nessa escola. Fico pensando no que a professora me contou…Se o Eric não precisasse esconder o que sente e pudesse compartilhar o que está fazendo ele sofrer? Como seria poder ter amigas com realidades muito diferentes que pudessem brincar e conviver como irmãs? Queria que meu pincel fosse como uma varinha de condão. Opa! Aqui não tem respeito? Não tem espaço para as diferenças? Não é possível construir relações verdadeiras? Me dá um minutinho…. Vou criar meu próprio mundo!”
Só sei o que veio depois, ela me chamou e disse: “Chefa, topa fazer alguma coisa com isso”? E como num passe de mágica, ela me convenceu a embarcar na ideia mais maluca, menos provável e mais incrível que eu já ouvi.