O palhaço Zé Afonso e a gangue-do-fundãozice

Quando tinha cinco anos, Zé Afonso ganhou da sua avó um livro muito especial: Como Ser Bonzinho. O livro era curtinho, ilustrado, daqueles bem coloridos e ensinava quais talheres usar em cada situação, técnicas diferentes para falar “por favor”, elogios infalíveis para desferir quando você visita a casa de alguém e até cafunés irresistíveis para fazer em cachorros.

Aceitar ou não um chiclete do amigo? Ajudar a mãe na feira ou continuar jogando videogame? Empinar pipa lá fora ou estudar geografia? Sempre que Zé se deparava com essas profundas questões morais e éticas, seguia os conselhos do livro, seu guia dos bons costumes.

“Zé, você é uma fofura”, dizia Tia Filó, professora da terceira série do colégio Boaventura.

No colégio, aliás, aconteceu um de seus maiores orgulhos. Tia Filó estava um pouco atrasada para aula, por conta de uma reunião com a bibliotecária, e aí a turminha do fundão iniciou uma imprudente guerra de giz. Aquela turma de sempre, né? A gangue do fundão! Em meio à batalha empoeirada, Zé Afonso se levantou da sua carteira na primeira fileira e caminhou sorrateiramente, com seu franzino corpo, para fora da sala de aula e até a sala da diretora. Zé dedurou todo mundo. A diretora e o inspetor logo foram ao local e flagraram toda a algazarra. A turminha do fundão ficou suspensa por uma semana e diz a boca pequena que ficaram de castigo sem televisão ou youtube.

Zé Afonso era um herói.

Mas cansava ser herói tooooda hora. Parecia que a gangue do fundão se divertia tão mais que o Zé…

Um dia, quando sua avó veio visitá-lo em casa, pensou que poderia ser interessante experimentar um pouco de gangue-do-fundãozice. Esperou a avó ir ao banheiro e a trancou, pelo lado de fora!

– Zé Afonso, querido, tira a vó daqui, tira…
Zé, apreensivo, na sala, nervoso, com a chave na mão, ficou parado, esperando mais um pouco.
– Afonsinho, meu quitute, abre essa porta…
Zé, com sorriso no canto de boca, suando, no corredor, foi em direção ao banheiro.
– Ô, Zé, a broa vai queimar tudo no forno, menino. Tira a avó!
Zé gargalhando, culpado, orgulhoso, malandro, destrancou a avó.
– Ô, vó, desculpa, não te avisei, essa porta às vezes dá problema.
A avó deu uma bufada e foi num salto salvar a broa. E o Zé Afonso percebeu que até que ele era bom em não ser lá muito bonzinho.

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