Nós da equipe de educação juntamente com outras pessoas queridas de Carlotas experenciamos algo diferente no mês de setembro. Algumas semanas atrás, nosso encontro ocorreu na instalação artística interativa trazida para o Brasil pelo Intermuseus em parceria com o Museu da Empatia, sediado em Londres. Foi um feliz encontro para alguns, pois tive a oportunidade de conhecer pessoalmente pessoas que até aquele momento eram vistas apenas pela tela do computador, e para outros, um alegre reencontro. A proposta daquele lugar era caminhar literalmente com o sapato de uma outra pessoa, descalçando seus preconceitos e percebendo o mundo a partir de um referencial diferente do seu.
Assim que abri a caixa, percebi que seria desafiador caminhar com aqueles sapatos. Era um sapato preto de salto bem alto. Algo que nunca vesti. Além dele, havia um fone de ouvidos com a história da pessoa, dona do sapato. Vesti o sapato, tentei dar o primeiro passo e senti que não daria conta de caminhar. Meu medo era muito maior de cair e quebrar o pé. Um dos monitores disse que eu não precisaria caminhar e que poderia ficar em pé ao lado do banco. Ele disse também que algumas pessoas ouviam a história sentadas. Queria me desafiar e comecei, com passos bem pequenos, sentir algo que não imaginava.
No momento em que consegui me equilibrar e acalmar meu coração, percebi que a história já estava sendo contada. Era uma moça com uma história muito dolorida. A partir de então, já não sentia a dor no pé, o medo de cair e o desconforto no caminhar. Queria apenas ouvi-la.
Calçar esse sapato me fez conectar com essa mulher de uma outra forma. Refletir sobre tudo o que ela passou me faz repensar em alguns pontos da minha história e honra-la. Não sei se conseguiria passar por metade do que ela contou. No momento em que o áudio terminou, fiquei por alguns minutos tentando digerir toda aquela dor. Alguns autores conceituam empatia de formas diferentes, entretanto, é unânime dizer que é o sentir em todos os sentidos e foi isso que aconteceu naqueles minutos que pareciam horas.
Essa experiência me fez refletir também sobre a escuta, o olhar generoso e a forma que me conectei com as emoções dela. Sabemos que empatia é a palavra da moda. Nós da educação, escutamos muito essa palavra nas escolas.
Gostaria de deixar aqui algo para que possamos refletir juntos e juntas. O que nos faz achar que conhecemos realmente a história do outro ou outra para julgar, palpitar ou condenar? O salto imaginativo em que muitas vezes fazemos para compreender o outro é muito mais desafiador do que o imaginado. É sair literalmente da nossa zona de conforto. Será que realmente estamos preparados para isso? Compartilho com vocês esse pequeno relato de um dia inesquecível!