Meu evento tem intérpretes de LIBRAS, rampas e mapas em Braille. Então, ele é acessível?
Muitas pessoas me perguntam isso. Algumas, até com “orgulho”, afirmam que seu evento, palestra, sala de reunião é acessível porque tem intérprete de LIBRAS, rampas e mapas/cardápio em braille.
Isso é somente a ponta do iceberg, literalmente. É somente o topo, uma coisa essencial que tem que ser feita e providenciada. Porém, se você não trabalhar a jornada da pessoa, estudando o tipo de persona que quer que esteja presente (pode ser no presencial, virtual ou híbrido), seu evento não será acessível.
Evento Acessível: O Primeiro ponto é o ACESSO
Será que a pessoa de onde ela está consegue acessar o lugar? Farei duas provocações.
Algumas vezes chamamos para reuniões em lugares longe de metrô e com poucas opções de transporte público. Lembrando que cegos e pessoas no espectro autista, como não dirigem, têm muita dificuldade em pegar ônibus, ficando na dependência de táxi ou transporte por aplicativo. Podemos expandir isso para toda diversidade. Se a pessoa necessita pedir transporte por aplicativo para chegar a um local, ela precisa ter o mínimo de recursos financeiros (muitas vezes ir a um local de Uber ou 99 vai pelo menos R$ 20) e estar bancarizada, pois vai precisar de um cartão de crédito, apesar de que os aplicativos flexibilizaram para dar mais acesso a mais pessoas e terem um mercado maior.
No virtual, por exemplo, o ACESSO acontece de várias formas. Um amigo cego perguntou uma vez se seu computador estava ligado. Afinal, como ele iria utilizá-lo se não sabia se estava ligado. Às vezes, em aulas ou palestras, pedimos para as pessoas acessarem um QR Code. Se for aula presencial, todos estão com bateria e internet, mas muitas vezes o 4G consome dados e nem todos têm. Se for no virtual, lembra que 85% do acesso à internet no Brasil são feitos no celular. Como uma pessoa no celular vai acessar um QR Code projetado na tela do aparelho? São coisas simples, mas que impedem o acesso da pessoa.
O Segundo ponto é o NAVEGAR ou MANUSEAR
Se a pessoa conseguiu chegar no seu evento, foi o primeiro passo. Agora, ela precisa chegar no auditório ou na mesa que está sendo aguardada. De que forma isso acontecerá? Digo isso porque muitos centros de convenções têm vários eventos acontecendo ao mesmo tempo. Como a pessoa irá chegar ao seu? Mesmo no virtual, quantos eventos você perdeu online por não saber onde está o link para acessar ou este não abrir?
Aí sim vem o USAR. É aí que seu evento tem que ter rampa, intérprete de LIBRAS, cardápio em braille. É aí que as pessoas que você deseja que estejam no seu evento estarão usufruindo ao máximo.
Estou desenvolvendo uma metodologia para mapear os graus de maturidade em cada uma dessas etapas e outras. Quem quiser conhecer e conversar, estou aberto.