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O que o filme “A Viagem de Chihiro” me ensinou sobre pertencimento?

A Viagem de Chihiro e o senso de pertencimento (cuidado: contém spoiler!).

Eu sempre fui melhor “de segunda” vez, do que de primeira. A segunda viagem para o mesmo local, a segunda leitura de um mesmo livro e a segunda reflexão sobre um mesmo tema.

Nesse final de semana, fiz uma segunda viagem na história de Chihiro, uma animação japonesa de 2001. Ilustração impecável, ao estilo mais típico oriental, repleto de detalhes e poesia. Elementos que certamente perdi em 2003, quando assisti ao filme pela primeira vez no cinema sozinha, para um trabalho da graduação em Psicologia.

Confesso que não me recordo ao certo a análise psicológica do filme na época…certamente algo sobre símbolos, inconsciente e identidade. Mas depois de 17 anos, o enredo veio recheado de significados muito próximos e marcantes.

Chihiro é uma menina no alto dos seus 10 anos de idade, que está com medo da mudança de cidade que está por vir. Seus pais buscam consolá-la, até que, por um descuido provocado por curiosidade (e gula), são transportados para um universo paralelo, onde Chihiro se vê na obrigação de salvá-los.

Até aí, nada diferente do que acontece na ficção (e também em nosso dia a dia): inversão de papéis com nossas figuras maternas e paternas, aventuras e desafios inesperados, relações que são conquistadas pouco a pouco….mas Chihiro também nos ensina a ver o mundo (novo) com outros olhos: daquilo que é o diferente, o desconhecido. Ela, no universo paralelo, é um ser humano que os outros seres vivos desprezam, com formas e cheiros estranhos, ações incompreensíveis e uma disciplina questionável. Ser Chihiro nesse mundo é viver num universo onde se é constantemente excluído e rejeitado.

Será que o universo paralelo de Chihiro é, na realidade, o nosso universo do lado de cá?

Imagem: Studio Ghibli

Confesso que, por um instante, achei que seria uma boa (e triste) história, que apenas retrata o nosso dia a dia corrompido pelos excessos e pelas faltas. Mas a sabedoria dessa criança foi capaz de mostrar o que a generosidade e a empatia são capazes de fazer. E é com essa dança, entre a escassez e abundância, que a personagem nos apresenta o desafio de se sobreviver num mundo que não lhe permite ser quem é, não lhe convida a pensar e ser diferente. Chihiro não se sente pertencendo àquele mundo; sua forma, seus movimentos e, nem seu nome, são aceitos nessa sociedade.

Segundo a psicologia, o senso de pertencimento é o sentimento fruto de relações e espaços que nos garantem segurança, bem estar e confiança. Ela pode ser experienciada em famílias, círculos sociais e organizações em geral. É uma necessidade humana que vive em todos nós: desde a mais precoce infância, nossa busca incessante é por existir, nos conectar e sentir que pertencemos a algo maior.

A viagem de Chihiro, de maneira objetiva, é a busca pela libertação de seus pais e de um mundo onde humanos não são bem vindos. De maneira subjetiva, é a busca por um mundo onde ela e, todos que ama, possam ser livres e aceitos.

Chihiro, com muita persistência e coragem, consegue quebrar barreiras que pareciam intransponíveis: consegue libertar não somente seus pais, mas também os outros humanos que estavam presos em corpos de porcos, confinados a um cotidiano mecânico, inócuo. Ela amadurece no processo e torna-se uma Chihiro mais corajosa, que gera transformações por onde passa, por meio da aceitação, inclusão e empatia.

Imagem: Studio Ghibli

Por isso, destaco aqui algumas reflexões que o filme me provocou:

– Ser uma pessoa diferente num mundo onde não somos aceitos nos tira a identidade, troca nosso nome (Chihiro é batizada de Sen, no universo paralelo) e nos faz esquecer de nossa história. Por isso, criar laços e provocar conversas que nos lembrem da nossa essência e valores é um verdadeiro bálsamo.

– Somos mais corajosos do que acreditamos. Em alguns momentos, só nos falta uma oportunidade, um motivo forte o suficiente e boas parcerias na jornada.

– Relações autênticas são construídas por espaços onde você também permite que o outro seja quem é. Quando você abre uma porta para alguém “de fora entrar”, você também permite que novas riquezas e experiências sejam geradas (lembra-se do personagem “sem rosto”?)

Se você não teve chance de assistir ao filme ainda, corre lá. Talvez você tenha outros insights além desses que (felizmente!) me sequestraram. Para mim, a “segunda viagem” de Chihiro me convidou a arriscar, ter coragem e pertencer a novos lugares ainda desconhecidos. E claro, levar bons amigos dessa jornada.

E para você? Para onde Chihiro te levou?

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