Nesta caminhada de Carlotas, nosso trabalho transita entre estudar (pensar), incorporar (sentir) e viver (agir) a empatia. Quando começamos, em 2011, o tema não era tão conhecido. E, de lá para cá, esse terreno da empatia começou a ser habitado de diversas maneiras.
Um lado muito positivo é que isso leva a busca de informação e reflexão para esse olhar empático nas relações. No entanto, há uma onda tratando a empatia de uma forma simplista e mecânica.
Não acompanho o BBB, apenas pelos meios de comunicação, e é bastante duvidoso ter ações como a da Amstel para se apropriar do tema com a saída de uma das participantes Se você é como eu, veja aqui do que se trata. De qualquer maneira, é importante ter esse espaço para conversa já que Empatia está bem longe de ser o simples “se colocar no lugar do outro“.
Alguns autores divergem sobre o tema, trazendo ainda mais confusão. Se eles não se entendem, muito pouco posso contribuir. Posso tentar juntar tudo isso e dizer o que faz sentido para mim e para Carlotas.
Claramente aqui, de todas as teorias, a que menos somos fãs é a do Paul Bloom, veja aqui o artigo sobre o livro tão polêmico dele que o Mauro Fantini escreveu. O que me incomoda, em particular, na sua fala é que ele se atém apenas na parte da nossa capacidade de se conectar com quem é próximo ou se comover com grandes tragédias. Mas, como traz Daniel Goleman, essa conexão pode acontecer num nível cognitivo, afetivo ou compassivo, que seria o que Bloom define apenas como Compaixão.
A grande diferença, para mim, é que a compaixão tem uma motivação de pena, ligada ao sofrimento e, muitas vezes, quem a sente, sente por se sentir num lugar acima do outro (eu estou bem e você está mal) – ainda que de forma inconsciente. Um lugar de “Eu posso e vou ajudar você.” Quando falamos de empatia, falamos de nos colocar em pé de igualdade e, muito mais do que estender a mão, é estar disponível para que o outro sinalize como podemos efetivamente ajudar. Neste momento, ocupamos o lugar: “Estou aqui para você, me diga o que você precisa.”
Um lugar no qual criamos essa ponte entre o eu e o outro, achando elos de conexão por meio do respeito à individualidade de cada um e entendendo que, possivelmente, tenhamos pontos de partidas e referências (perspectivas de mundo) diferentes.
Ser empático não é algo simples, tão pouco raso. Exige um olhar para dentro para, então, ir para fora.
E assim, como outras competências e habilidades, pode ser mal usada ou usada de forma exagerada. Por isso gosto muito do Simon Baron Cohen e do Roman Krznaric com mais perspectivas sobre o tema.
Essa reflexão está longe de ser uma conclusão sobre empatia, mas um ponto de partida para a construção de um olhar mais coletivo principalmente neste momento de polarização e de grande caos social. Isso acaba ressaltando e incentivando embates ao invés de diálogo. No entanto, temos que abrir mão de desejos pessoais para o bem comum. E isso é, sem dúvida, um grande processo empático.
*Ilustração da capa por Gracia Lam.