Nicolau sempre adorou essa época do ano. O clima de esperança, retrospectiva, confraternização e, claro, esse calorzão delícia no hemisfério sul. Mas, de uns anos para cá, ele tem ficado bastante preocupado. Notícias ruins, o pessoal pessimista, um xororô danado. Fora a maratona para rever todos os amigos que se reuniram pela última vez exatamente em dezembro do ano anterior. O que sobra? Muitas vezes, muito cansaço, uma ressaca e alguns quilos a mais. Por isso, Nicolau tomou uma decisão, essa situação não poderia continuar.
Como podem viver essas pessoas que sonham, planejam e se deixam esquecer em menos de 30 dias tudo que fariam para serem mais felizes? Dezembro parece ter se tornado uma bomba relógio prestes a explodir à meia noite, jogando na cara tudo que não fizemos, as pessoas que não encontramos, as coisas que não dissemos, o bem que não praticamos e os sonhos que sufocamos.
A partir deste próximo ano, todos terão a chance de recomeçar com o nascer do sol. Ninguém – ninguém mesmo – tem que esperar mais de 24 horas para poder sonhar, renovar, planejar ou ajustar o rumo das coisas. Emprestando as palavras do poeta, cada um tem o direito de voltar, se assim achar que deve mas se achar que deve seguir, que nada o impeça; se achar que tudo está errado, que comece novamente, mas se estiver certo, que continue; e, se sentir saudades, mate-as. Quando a lua aparecer no céu, todos os votos podem – e devem! – ser refeitos e que o tempo não nos seja roubado nem perdido mas usufruído com o que e com quem a gente escolha.
Então, Nicolau parou e ficou em silêncio um instante. Entendeu que esse é o melhor presente que cada um recebeu quando nasceu mas que ainda não encontrou dentro de si.