Otávio nasceu em um dia ensolarado de verão, em uma cidade pequena, dessas que todo mundo conhece todo mundo. Lá tudo vira notícia. Otávio virou uma assim que nasceu. O motivo? Nasceu com uma perna só. Quando a novidade se espalhou, a cidade inteira ficou curiosa.
As pessoas estavam mais interessadas em ver o menino que nascera sem uma perna, do que parabenizar a família pelo nascimento do novo integrante. Quando conta sobre isso, ele sempre pergunta aos seus ouvintes: O que pode ser mais importante que um nascimento de uma criança?
Foram muitos os comentários, teve até quem dissesse que ele era filho do Saci Pererê. Outros disseram que a mãe teve desejos “não atendidos” durante a gravidez, e por aí vai, foram muitas as especulações sobre sua chegada ao mundo.
O tempo passou, e Otávio ensinou não só a sua família, mas à uma cidade inteira. Ele sempre teve uma perna, e cresceu brincando e fazendo o que quisesse, assim como o resto das crianças da cidade.
Ele não era filho do Saci, mas pulava tão bem quanto ele. Se divertia driblando a falta de acessibilidade que havia na sua pequena cidade. Olhava cada obstáculo como um quebra-cabeça, um jogo de estratégia que brincava de ultrapassar.
Quando foi para escola não teve medo dos esportes, experimentou todos para ver qual ele gostava mais, sabia que não ia ser fácil, mas seu tio tinha mostrado a ele vídeos de vários atletas paraolímpicos. Tinha até um nadador que não tinha braços e pernas. Otávio via que o mundo era feito de infinitas possibilidades.
Na escola, Otávio descobriu a escalada, para ele era uma evolução do que já fazia diariamente na sua vida “como faço para chegar até lá?”. Ele ouviu que não seria fácil, mas não ligou foi lá e fez. Teve que se esforçar como qualquer outra pessoa praticante do esporte, alguns lances eram mais difíceis e outros mais fáceis.