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Pensando nas palavras

Em tempos de “ChatGTP”, episódios de violência na educação e tanto antagonismo na sociedade, algumas questões me instigaram:

Como podemos utilizar a palavra, a linguagem para nos comunicar de forma mais sensível? Afinal não somos meras máquinas reproduzindo ideias e conceitos, certo? E como falar sobre esses assuntos com as crianças?

Quem sabe por meio da linguagem poética consigamos passar conhecimento e informação de forma mais sensível aos pequenos e grandes leitores… Por isso acredito tanto na literatura!

Então me inspirei em uma história surpreendentemente verídica para escrever este texto, e espero que possa ajudar na discussão desses temas tão difíceis, vivenciados hoje por todos nós.

Pensando principalmente em dialogar com o público infantil e infanto-juvenil, neste texto falo sobre guerras, desentendimentos, paixões, música, tragédias, sonhos, heróis…E principalmente sobre os significados dessas palavras. Tantas palavras que juntas poderiam se transformar em qualquer coisa. Mas que neste momento se transformaram em uma história de um homem que foi salvo pela música:

Mário: o Homem que foi salvo pela música

Era uma vez um tempo de muito desentendimento

Palavra difícil como essa não parece ser coisa boa, não é?

É quando alguém fala, pensa ou sente algo e a outra pessoa não entende bulhufas

Palavra essa que também pouco se conhece

Será que se referem àquelas bolhas gigantes onde pessoas viajam pelo espaço?

Acho que agora fui longe demais!

Mas voltando no tempo

Quero contar uma história feliz que aconteceu dentro de uma história triste

A dúvida é: por onde começar, pela feliz ou pela triste?

Afinal, se a história será contada agora,

Talvez não precise seguir o tempo cronológico

Ah! Outra palavra complicada!

Mas uma coisa é relógio (que conta o tempo cronológico) e outra coisa é a memória.

Um marca hora e a outra conta história.

Uma memória é um tempo especial.

E essa história começa aqui, pronto!

Naquele tempo de desentendimento, quando pessoas, famílias, cidades e mesmo países inteiros brigavam entre si…

Nasceu um homem muito especial que construía casas e era apaixonado por…

Ópera!

Sabe? É um estilo de música cantada com a boca bemmmm aberta!

A voz fica tão alta e tão bonita ao mesmo tempo que nem parece ser de uma pessoa só

As óperas geralmente contam também histórias, de grandes amores ou grandes tragédias

Quer dizer…Coisas que aconteceram e não deram tão certo assim ou terminaram de forma ruim!

Mas se das tragédias se cantam músicas que podem ser apaixonantes, acho que nem tudo ficou perdido.

E voltando neste ponto, este homem se chamava Mário.

Ele viveu no tempo da Segunda Guerra Mundial.

Sim, essa é a parte triste.

Não me pergunte o porquê se enumeram guerras, como contagem progressiva.

Primeira, Segunda…Parou! Ufa!

Tem coisas no nosso mundo que deveriam ser contadas ao contrário,

Porque são coisas descabidas, desajeitadas, verdadeiras tragédias!

Mário nasceu na Itália, país da Europa, continente que sofreu muito com essa história de guerra e desentendimentos.

Em meio aos seus tijolos, construções, sonhos e óperas foi convocado obrigatoriamente a lutar na guerra.

Obrigação é algo que não se discute, nem se tem escolha, não.

Teve que ir e pronto.

Lutar pelo seu país, pela sua família, talvez por um sonho ainda não vivido…

Viajou por muitos lugares, outros continentes que nunca tinha sonhado em conhecer

Continentes são terras que juntam num lugar só um monte de países

Que juntam um monte de cidades que juntam um monte de famílias que juntam pessoas….

E essa guerra, como todas, muito descabida, aconteceu porque um grupo de pessoas acreditava ser melhores que outras e queria dominar o seu país

E quando isso acontece só pode haver muito desentendimento, brigas e mais outras coisas não tão boas de se contar…

Mas Mário teve que ir para guerra de qualquer forma.

Foi lutar até na África, um continente bem longe da sua casa

Mas nunca se esqueceu de suas verdadeiras paixões: sua esposa, seu filho, uma casa desenhada no papel, e lógico, a ópera!

Passava meses juntando uns trocados, isto é, um dinheiro bom para conseguir pagar pelo ingresso e assistir uma tradicional

Ópera Italiana!

Paixões são sonhos que fazem bater mais forte o coração.

E quando a gente sonha, o tempo passa diferente

E não é mais o relógio, ou o dia e a noite que contam e sim o ritmo do coração.

Dizem que quando a gente escuta o ritmo do nosso coração a gente não perde tempo na vida!

Parece que Mário era um desses sábios homens que sabia muito bem escutar as coisas boas da vida!

E foi no meio deste grande desentendimento, onde muitos países guerreavam que Mário foi parar em um dos lugares mais temidos de toda a guerra: os campos de concentração.

Infelizmente não se saia vivo de lá, era um destino certo do fim.

Mas como eu disse, existe uma história feliz dentro dessa triste história.

Foi lá que Mário no meio de muitos inimigos não se esqueceu de ouvir seu coração

E dizem que quando a gente dá voz ao nosso coração é como se cantássemos uma música com a boca bem aberta, com um som tão alto que nem parece uma pessoa só…

E Mário fez isso.

Não se esqueceu de suas paixões.

De pensar no Amor por sua Família,

Na casa dos sonhos que queria construir, desenhada no papel, e das tradicionais óperas italianas que ainda poderia escutar

E de tragédias que não terminavam totalmente e que viravam músicas

E como coração todo mundo tem, um suposto inimigo de Mário também escutou a voz do seu coração

Apaixonado também por Óperas este anônimo vilão se tornou o grande herói desta história

Anônimos são pessoas que não sabemos o nome, mas nem por isso deixaram de escrever sua parte da história

E dizem que a maioria dos grandes heróis são anônimos, desconhecidos por muitos, mas inesquecíveis na memória!

Sem mais delongas, Mário e seu anônimo herói se tornaram ex-inimigos,

E pela paixão de ambos os corações ao ritmo que grita alto para todos ouvirem,

Este anônimo liberou Mário de sua grande tragédia, o deixando fugir do campo de concentração.

E voltar para seu país, sua família, uma nova casa

E até reconstruir sua vida em um outro continente, na América do Sul, em outro país, o Brasil

E talvez mal sabia ele que a música poderia o levar para tão longe e ao mesmo tempo tão perto de seus sonhos

Provocando uma linda canção dentro de uma tragédia

Como as óperas que costuma ouvir desde tempos imemoriáveis….

E dizem que o amor quebra qualquer barreira, reconstrói vidas, e faz o coração cantar sempre mais alto!

Fernanda Almeida Di Poi Cruz


Imagem: Inácio Almeida Di Poi Cruz (Vovô Mario)

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