Achei curiosa a resolução de ano novo de um amigo que decidiu que TODAS as suas escolhas seriam feitas com o coração. Achei isso fantástico e ao mesmo tempo passível de um esforço quase sobrenatural.
Fico pensando o quanto a gente deixa de tomar decisões por amor, por ser mais seguro acionar o botão da razão. Parece que tem momento certo para tirar o nosso coração da caixinha e permitir que ele se exponha um pouquinho. Quando estamos com alguém que amamos, por exemplo, confiamos que aquela pessoa vai saber receber aquilo que o nosso coração oferece. Usamos esse amor guardado aí e pronto! Embrulhamos com plástico-bolha e guardamos depressa, antes que ele fique vulnerável demais. Dói muito quando a nossa entrega foi genuína e o remetente não a entendeu.
E já que o risco parece grande, quando devemos conectar o sentimento do coração às funções neurais? Será que dá mesmo para colocar o coração em todas as decisões? Eu me arrisco a dizer que SIM! Desde acolher alguém em um abraço, mandar um e-mail corporativo, comprar uma roupa nova, sorrir para um estranho, se arrumar para sair, preparar uma comida, fazer uma faxina… seja por amor-próprio ou ao próximo, dá para fazer a razão funcionar a favor do coração. Digo isso por acreditar que o preço de não viver a verdade da alma seja MUITO maior do que optar pela segurança de uma vida morna.
Lembro de uma amiga me contar que seu pai, em seu leito de morte, olhou para ela e disse amargamente: “Filha, trabalhei demais e a vida passou! Como queria ter usado mais o meu tempo para ser um pai melhor para você e suas irmãs!”. Ouvimos várias histórias assim, que nos ensinam a escolher a vida com pacote completo: amores e dores, alegrias e decepções, perdas e ganhos.
Sim, queridos, é difícil MESMO. E é por isso que a razão resiste ferozmente para não sair do modo automático. Mas tenho fé de que essa prática leva ao discernimento de que toda forma de amor é uma manifestação da parcela divina que carregamos. E no fim das contas, o indicador de que estamos escolhendo com o coração não é necessariamente a alegria… é sempre a PAZ interna, do alinhamento entre fazer-sentir.
Foto da capa de Prottoy Hassan.