Prego
Na frente do espelho, Prego penteia seu topete pra lá, penteia pra cá. “Prego, vamos! Vai se atrasar já no primeiro dia de aula?” – A mãe do Prego não sabia, mas ele estava muito ansioso por isso.
Primeiro dia de aula não é fácil. Reencontrar os amigos, fazer um resumo das férias, conhecer a classe nova… E se ele caísse com outra turma? Será que iam gostar dele? A cabeça de Prego dá um nó pensando essas coisas no caminho para a escola. Mesmo sendo popular, Prego estava nervoso. Nem sabia explicar direito com o que, mas estava definitivamente nervoso.
Pronto. Não tem mais jeito… é a hora. Respirou fundo, acenou para sua mãe e cruzou o portão. Alguns rostos conhecidos, outros novos. Prego não conseguia ficar tranquilo. Por mais animado que ele fosse, o primeiro dia de aula sempre deixava ele assim, ansioso. Ufa! Seus amigos de classe. Correu para o grupo. Abraços, risos, todos falando ao mesmo tempo. Certeza que ninguém se ouvia. Foi quando Prego viu do outro lado do pátio um dinossauro todo amuado, quieto, encolhido num canto. Esse sim parecia nervoso com o primeiro dia de aula.
Foi o que bastou para Prego esquecer sua ansiedade. É mais forte que ele, oferecer ajuda para quem precisa. Quando percebeu, já estava lá tagarelando ao lado de Lucas, tentando fazer o assustado dinossauro se sentir melhor. E olha que essa não estava sendo uma tarefa muito fácil. O Lucas era bem esquentadinho. Qualquer coisa era motivo para ele dar uma bufada bem quente.
No entanto, Prego é assim, com jeitinho, ele aprende a lidar com todo mundo. Nem bem começou a aula, a dupla nem mais lembrava que estava nervosa com esse primeiro dia de aula.
Lucas
Lucas estava muito bravo, nem conseguiu dormir a noite. Era o primeiro dia de aula na nova escola. Passou as férias todas tenso porque não ia conhecer ninguém. Ficou imaginando que não iam aceita-lo e tinha certeza que não ia conseguir fazer novos amigos.
Com um aperto no peito, daqueles que a gente nem consegue explicar, muito menos controlar, foi entrando na escola. Devagar, ia observando o lugar. Era um tanto de gente correndo, rindo e brincando, que seu peito só apertava mais.
“Ta vendo? Ninguém nem me viu…”, pensava o pobre Lucas atravessando o pátio. Lá sentou num canto, de braços cruzados e ficou olhando toda aquela animação como se não fizesse parte daquele mundo.
“Oi! Me chamo Prego, e você?” – Foi aí que Lucas percebeu que tinha alguém do seu lado. Precisamente sentado do seu lado. Com muita má vontade e a cara mais fechada que conseguiu fazer, Lucas se apresentou.
Quem sabe aquele macaco ia embora logo e deixava ele em paz. Não adiantou. O tal do Prego não parava de falar. Falava da escola, das férias, dos professores e de cada um dos alunos. Eita macaquinho tagarela!
Lucas estava tão nervoso que, quando Prego fazia uma pergunta sobre ele, o dinossauro bufafa sem perceber. Mas aos poucos, com a falação de Prego, Lucas descruzou os braços e, quando se deu conta, já estava na sala conhecendo o restante da turma.
Clara
Clara sempre fica animada com a volta às aulas. Ela não vê muita graça nas férias afinal, não tem seus amigos para brincar e acaba ou vendo TV, ou brincando sozinha nos dias. São poucos os dias que tem programa como visitar seus avós.
Ela fica tão ansiosa que mal consegue dormir. Passa a noite imaginando como vai ser, qual classe vai estudar, os professores, os amigos… É tanta coisa que parece que não vai dar conta.
Finalmente! Como é bom reencontrar todos. Não consegue parar de falar. Quer contar das férias, saber as novidades, muito assunto para pouco tempo. A professora logo entra na sala e faz todos se acomodarem.
Esse ano, tem uma aluna nova na sala, a Silvia. Ela era diferente, meio quieta. Parecia tímida, às vezes. Parece que era da tarde. Ela chamou atenção de Clara e das meninas porque tinha esse jeito diferente, mas elas estavam muito ocupadas colocando as fofocas em dia que a Silvia ficou sozinha o tempo todo.
Silvia
Silvia era uma menina especial. Pelo menos era o que diziam. Na verdade, falavam que ela era especial porque não queriam dizer que ela tinha Síndrome de Down. Não é todo mundo que consegue lidar bem com alguém que tem outro jeito de pensar.
Ela adora ir na escola, é super caprichosa com seu material e fica muito animada quando tem aula. A sua turma de classe levou um tempo para se acostumar e interagir com ela mas agora ela tinha que começar tudo de novo porque foi estudar de manhã.
Silvia chegou na escola uns 20 minutos antes da aula começar. Estava muito feliz com sua mochila nova. Como já conhecia a escola, passou no banheiro e foi direto para a sala. Queria pegar um bom lugar. Sempre ficava na frente, perto do professor, para ter uma ajuda rápida quando necessário. Para os alunos da manhã, ela era novidade. Sentia as crianças olhando para ela com estranheza. Recebeu uns sorrisos de pena, outros sorrisos sinceros e outros risinhos maldosos que doiam lá dentro.
Ela sabe que vai levar um tempo até as pessoas entenderem que, na verdade, todo mundo é especial.