Quanto tempo o tempo tem

“O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.” – Desconhecido

Esta semana o tempo rondou meus pensamentos. Coincidência ou não, dois amigos me recomendaram o documentário brasileiro “Quanto tempo o tempo tem“, de 2015. Cheio de provocações, difícil sair ileso dos quase 80 minutos de filme. E aí, tenho que concordar com Domenico de Masi – um dos entrevistados do documentário – se nada mudar sobre sua percepção do tempo após assistir o documentário, terá sido uma perda (ou um roubo) de tempo.

A sensação de que o tempo passa mais rápido – e, segundo o documentário, está passando – nos convida ao eterno conflito: O que queremos fazer vs O que fazemos. Estamos sempre em algum lugar que não o agora, correndo atrás de algo intangível que insistimos em materializar.

Há alguns anos (quase 15!), li um livro que me marcou muito e, não raro, recorro a ele para me lembrar de olhar para o momento: Devagar, Carl Honoré. Passando por diversos temas como comida, música, medicina, sexo, trabalho, lazer e família, Carl Honoré relembra que não há depois se não houver agora.

Por um lado, traz a intensidade e contemplação do momento. Por outro, faz pensar se é este agora que queremos viver. Afinal, o tempo é o presente mais valioso que temos para compartilhar com alguém. Ainda ontem, ouvi a frase: “Estar presente é um presente”. Assim, olhar o tempo (o momento) é olhar como estamos desfrutando ele.

Quanto mais acelerados estamos, menos podemos ter esse olhar. E talvez, seja nisso que muitos se apoiem. Confesso que, muitas vezes, eu também. Acabamos nos rendendo a inércia das atividades e preocupações, sem nos permitir olhar se o que estamos fazendo é o que realmente importa.

A eterna luta entre Chronos e Kairós. Ambos, deuses do tempo, mas, enquanto Chronos é o controle, a tarefa, o compromisso; Kairós é o momento, o desfrute, a liberdade. Nem só um, nem só o outro. O segredo está no equilíbrio, no caminho do meio.

Como diria Dédalo para Ícaro: Não voe tão alto que o sol derreta as ceras das suas asas, nem tão baixo que o mar pese suas penas. Voe pelo caminho do meio.

E nesse equilíbrio de Chronos e Kairós, Compromisso e Liberdade, Pressa e Desfrute, que seguimos a driblar os ponteiros do relógio. Um tempo também aprisionado. Mas, ao aprisionar o tempo no relógio, nos tornamos prisioneiros dele.

“(…) O tempo é o tempo. E ele é preciso. Que o tempo-vida é precioso e é para ser apreciado cada instante dele. Às vezes dá certo, às vezes não dá. Às vezes o dinheiro vem, às vezes não vem. Mas viver, com intensidade, essa é a coisa mais preciosa que existe. Apreciando a vida, dar valor a cada instante da existência. Isso é que vale.” – Monja Coen

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