Redes sociais: emoções que contagiam

Mulher segura celular à frente do rosto, com olhos estampados na tela, em fundo colorido. A imagem representa os impactos emocionais e sociais das redes sociais no Brasil, destacando identidade, exposição e saúde menta

Uma mensagem contendo discurso de ódio, seja falsa ou verdadeira, tem muito mais potencial de viralizar do que um conteúdo com dados otimistas. Isso acontece porque, informações que despertam indignação sempre engajaram mais as pessoas, é um comportamento natural. Mas, com as mídias sociais, os impactos são globais. Conteúdos de ódio e fake news podem eleger pessoas, afetar economias e desestabilizar a saúde emocional. Myanmar é um dos principais exemplos mencionados por estudiosos do tema. Um caso extremo, onde a propagação de conteúdo falso e mensagens de ódio através do Facebook ajudou a provocar um genocídio. 

Casos como esse são trágicos, mas nos levam a uma reflexão: já parou para pensar que tudo o que consumimos na internet foi criado por alguém e tem a intenção de algo? O documentário “O Dilema das Redes” destaca que os criadores das mídias sociais entendem profundamente sobre psicologia e sanaram uma necessidade latente nos seres humanos: a necessidade de aprovação e pertencimento. As curtidas viraram moedas de troca nas redes sociais e memes, demonstrações de afeto. Trailer do filme “O Dilema das Redes” abaixo:

Nada é por acaso ou sinal do Universo. As plataformas são projetadas para serem viciantes. Os próprios desenvolvedores do modelo de feed admitem que o formato se assemelha ao junk food: viciante, prejudicial e que não deveria ser consumido por ninguém.

Tudo o que aparece em nossas mídias é determinado por algoritmos altamente sofisticados, que analisam nosso padrão de navegação e interesses para nos entregar um conteúdo que roube mais tempo da nossa atenção. O TikTok se destacou rapidamente, porque criou uma mídia social com base no que já se mostrava eficaz no mercado, e aprimorou a experiência com inteligência artificial.

Em junho de 2014, veio a público que o Facebook fez um experimento secreto para avaliar o impacto das mensagens no humor das pessoas. O experimento, realizado em 2012, manipulou os algoritmos de 700 mil usuários. Parte deles recebia mensagens positivas, e parte, mensagens negativas. Os usuários tendiam a reagir, a publicar e a compartilhar conteúdos alinhados com aquilo que consumiam. O estudo comprovou que o contágio emocional poderia ser obtido sem interação direta entre as pessoas, que as emoções se espalham digitalmente. O experimento revelou que o Facebook não apenas influencia a opinião pública, mas também influencia comportamentos e até incita a violência. 

As redes sociais provocam muitos impactos psicológicos. Elas amplificam sentimentos negativos, como a inveja e a frustração, por nos expor constantemente à vida idealizada de outras pessoas. Esse ciclo pode desencadear ansiedade, baixa autoestima e, em casos extremos, levar a cyberbullying, assédio e até mesmo crimes mais graves.

As plataformas sabem dos seus efeitos nocivos. Muitos recursos já foram implantados ao longo dos anos, que favorecem a privacidade dos usuários, mas nada mudará se nós, como usuários, não mudarmos nosso comportamento. Acreditar que as redes sociais são capazes de controlar tudo com eficácia, sem ação e cooperação dos usuários, é como acreditar que, ao eleger seu candidato, tudo estará resolvido e você poderá viver de amor.

O Facebook foi alertado ao longo de anos sobre a disseminação de mensagens de ódio contra a minoria muçulmana em Myanmar. A ONU declarou, em 2018, que o Facebook contribuiu de forma significativa para o nível de desentendimentos e conflitos. Mais de 24 mil muçulmanos foram mortos e mais de 700 mil foram obrigados a viver em campos de refugiados. A plataforma possuía, na época, 5 funcionários que falavam birmanês para monitorar o conteúdo de 18 milhões de usuários do Facebook no país. Nenhum deles estava em Myanmar.

Educação midiática desde os primórdios da internet poderia ter produzido histórias com finais diferentes. Este foi um tema que ficou marginalizado por muito tempo, mas com o aumento do uso, maior incidência de casos e até mesmo grandes tragédias, aumentou também o conhecimento e a responsabilidade coletiva sobre o seu uso.

A solução não é viver numa bolha de otimismo, assistindo apenas vídeos de gatos e ASMR (um termo usado para publicações com estímulos sonoros que geram relaxamento e alívio do estresse), mas sim adotar um consumo mais consciente: limitar o tempo de uso, filtrar conteúdos tóxicos e evitar interações com pessoas que despertam emoções negativas são boas práticas para um ambiente digital mais saudável.

O Brasil é o segundo país que mais usa internet e o terceiro que mais usa redes sociais no mundo. Segundo o relatório “The Mental State of the World in 2023“, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental global. Somos o país mais ansioso da América Latina. Embora muitos fatores contribuam para isso, o uso da internet tem um impacto significativo. A relação entre tempo de tela e bem-estar mental não pode ser ignorada.

Se queremos uma internet mais saudável, precisamos ser usuários mais críticos. Afinal, as redes sociais são aquilo que criamos e publicamos.

 

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