Identificar o bom fica mais gritante quando temos a clareza do que é o mal. O livro Ciência do Mal – Empatia e a Origem da Crueldade (tradução livre do título em inglês: “Science of Evil – on Empathy and The Origins of Cruelty”), de Simon Baron-Cohen traz justamente a perspectiva oposta dos demais livros que tratam o tema. Por trabalhar e estudar profundamente psicopatologias, parte da observação da ausência de empatia, como ela se dá e seus impactos nas interações sociais.
Empatia e a Origem da Crueldade começa pela desumanização
O grande desafio do livro é passar do primeiro capítulo “Explaining Evil and Human Cruelty” (Explicando a Maldade e a Crueldade Humana – livre tradução). Embora óbvio, para mim foi aquele momento AHA!, no qual Baron-Cohen esfrega na nossa cara como descaracterizamos o outro na tentativa de aliviar nossa culpa frente as maldades que cometemos. Nos enganamos para nos proteger e criamos histórias nas quais o outro é menos, até merece nossa indiferença, desprezo e, por que não, atitudes desumanas.
Assim, parece muito forte tudo isso, afinal, o que de mal fazemos? O problema é que a maldade e a crueldade não começam do nada. Elas vão se instalando, ganhando espaço, sendo permitidas, e pior, sendo normalizadas.
“When our empathy is switched off, we are solely in the “I” mode. In such a state we relate only to things or to people as if they were just things.”
“Quando nossa empatia é desligada, estamos somente no modo “Eu”. Nesse estado, nos relacionamos com as coisas ou com as pessoas como se fossem apenas objetos.”
No livro, Baron-Cohen diz que a empatia é nossa capacidade de identificar o que outra pessoa está pensando ou sentindo e responder aos seus pensamentos e sentimentos com emoções adequadas. Porque não basta apenas reconhecer, é necessário responder a isso, o que Paul Ekman e Daniel Goleman chamam de Empatia Cognitiva e Empatia Afetiva. Você não apenas percebe o outro mas se afeta por ele, evitando magoa-lo, considerando o que poderia falar ou fazer para que ele se sinta melhor.
Para ele, as pessoas possuem graus diferentes de empatia, como um dimmer com intensidade de luz diferente. Para isso, criou um teste chamado Coeficiente de Empatia, que classifica em 5 níveis a capacidade empática das pessoas testadas. O resultado foi uma curva normal na qual a maior parte das pessoas tem sim a capacidade de se empatizar e nos extremos pessoas muito empáticas (nível 5) e pessoas incapazes de ser empáticas, o que ele chama de grau zero de empatia. Aqueles que estão do lado do grau zero, são pessoas com distúrbios neurológicos e/ou psicológicos. Para quem gosta e entende, ele explica com detalhes como funciona neurologicamente o processo.
O livro é um mergulho em questões morais e comportamentais e, mais que isso, o resignificado de maldade, essa característica tão humana que habita dentro de nós.
“Without empathy we risk the breakdown of relationships, we become capable of hurting others, and we can cause conflict. With empathy, we have a resource to resolve conflict, increase community cohesion, and dissolve another person’s pain.”
“Sem empatia, arriscamos o colapso dos relacionamentos, nos tornamos capazes de ferir os outros e podemos causar conflitos. Com empatia, temos um recurso para resolver conflitos, aumentar a coesão da comunidade e dissolver a dor de outras pessoas.”