Pela primeira vez, a Olimpíada terá time de atletas formado por refugiados de diferentes países. A equipe se chama Team Refugee Olympic Athletes (Time dos Atletas Olímpicos Refugiados, em tradução livre), e é formada por dez atletas, sendo cinco competidores do Sudão do Sul, dois da Síria, dois da República Democrática do Congo e um da Etiópia.
Na cerimônia de abertura da Rio-2016, que acontece esta noite, os atletas da equipe de refugiados entrarão no desfile antes do Time Brasil, delegação anfitriã dos Jogos. Eles levarão a bandeira olímpica.
“Esses refugiados não têm casa, nenhum time, nenhuma bandeira, nenhum hino nacional. Vamos lhes oferecer uma casa na Vila Olímpica em conjunto com todos os atletas. O hino olímpico será tocado em sua honra e bandeira olímpica vai levá-los para o Estádio Olímpico. Este será um símbolo de esperança para todos os refugiados em nosso mundo e vai trazer ao mundo melhor conhecimento da magnitude desta crise”, disse o presidente do COI, o alemão Thomas Bach.
“É também um sinal para a comunidade internacional de que os refugiados são nossos companheiros. Estes atletas refugiados vão mostrar ao mundo que, apesar das tragédias inimagináveis que eles têm enfrentado, qualquer um pode contribuir para a sociedade através de seus talentos, habilidades e força do espírito humano”, continuou.
Para a equipe, a mensagem que estão passando é: “Os milhões de refugiados espalhados pelo mundo todo não podem se contentar em serem apenas pessoas esperando a hora de voltar para casa. Podem, e devem, ser aquilo que quiserem: atletas, artistas, jornalistas, médicos, advogados.”
Embora estejam felizes com a oportunidade de participarem dos Jogos Olímpicos e serem porta-vozes dessa mensagem, os atletas também pretendem ser os últimos refugiados na história da Olimpíada. “Fico triste de não estar aqui como um sírio, mas estamos representando pessoas que perderam suas vidas, sofreram injustiça. Espero que em Tóquio não haja refugiados e nós sejamos capazes de competir sob a nossa bandeira.”, disse Rami Anis, sírio, que disputará provas de natação.
Acreditamos que esse é o verdadeiro espírito Olímpico, que traz através do esporte a oportunidade de olharmos para acontecimentos políticos e sociais de maneira mais empática e humana.
Infelizmente, as guerras fazem parte da nossa história e muitas pessoas deixam seus países para refugiarem-se em outras nações. Isso sempre aconteceu. Mas, pela primeira vez, esses homens e mulheres representam diante do mundo uma batalha que vai além das pistas, piscinas ou tatamis: eles representam a luta pela paz.
Conheça quem são os atletas refugiados e a breve história de alguns deles:
Rami Anis (Síria) – Natação – Anis deixou a Síria em meio ao conflito que ocorre no país, com medo de ser recrutado para a guerra.
Yusra Mardini (Síria) – Natação – A jovem e 18 anos ganhou projeção internacional ao ajudar a salvar 20 pessoas de um bote que afundou no Mar Mediterrâneo durante a travessia da Turquia para Grécia. Ela era uma das passageiras da embarcação e atualmente mora em Berlim. Ela relata: “Eu cheguei no clube Wasserfreunde Spandau sem nada de natação, sem maiô, óculos. E disse: Oi, sou nadadora, podem me ajudar?. E eles me ajudaram. Viram meu nível, me aceitaram. Eles se tornaram minha família”.
Yiech Pur Biel (Sudão do Sul) – Atletismo James Nyang Chiengjiek (Sudão do Sul) – Atletismo – Inscrito na prova dos 400m rasos do atletismo, ele afirmou que sua esperança é que o esporte sirva de exemplo para a paz. Atualmente, ele vive no Quênia após fugir dos conflitos em sua terra natal. “A interação entre os povos na Vila dos Atletas é uma das melhores coisas dos Jogos Olímpicos. É absolutamente incrível”, disse.
Yonas Kinde (Etiópia) – Atletismo
Anjelina Nada Lohalith (Sudão do Sul) – Atletismo
Rose Nathike Lokonyen (Sudão do Sul) – Atletismo
Paulo Amotun Lokoro (Sudão do Sul) – Atletismo
Yolande Bukasa Mabika (República Democrática do Congo) – Judô
Popole Misenga (República Democrática do Congo) – Judô – Ele foi um dos atletas que participou da coletiva de imprensa e emocionou quem estava presente: “O COI tirou a tristeza do nosso coração. Eu já tinha botado na nossa cabeça que a gente não pode fazer nada. Estamos lutando por todos os refugiados do mundo. Estão todos aqui para ouvir o que nós temos para falar. O esporte nos proporcionou isso.”