Muito tem se falado sobre o caso da Simone Biles ultimamente. Saúde emocional é um tema muito caro para nós em Carlotas e, em especial, para mim. Bom, eu não resisti e decidi ser mais um a escrever sobre o caso da Simone Biles. Só que diferentemente do que tenho visto por aí, não vou usar argumentos ou opiniões para defender meu ponto de vista. Para quem quer opiniões e reflexões, basta dar um google e você encontrará muita gente se posicionando (só cuidado para selecionar bem suas fontes de informações).
Em Carlotas, defendemos a empatia como um tempero que não pode faltar em nenhuma relação, por isso, meu convite é para que você faça um exercício imaginando que VOCÊ É UM ATLETA DE ELITE.
Só que antes de você assumir o papel deste(a) atleta e responder as perguntas, quero que você mentalize que você já é considerado(a) um(a) dos(as) maiores atletas de todos os tempos, não apenas na categoria que compete e mesmo antes de chegar na competição. Tenha em mente que você tem inúmeras medalhas e troféus e já bateu muitos recordes. Em resumo, você não é apenas um(a) atleta profissional, você é um ponto fora da curva em comparação com atletas de ponta. Lembre-se, também, que para chegar onde você já chegou, você abriu mão de muita coisa, você deixou de passar tempo com sua família e amigos, você abdicou de momentos de diversão, de relacionamentos. Você não teve uma vida “normal” e desde criança se dedicou muito, MUITO. Ainda, dentro da sua história, você foi um(a) dos(as) inúmeros(as) atletas, que durante o movimento “Me Too”, admitiram terem sofrido abusos sexuais durante sua trajetória de formação. E para finalizar, saiba que você provavelmente não terá um corpo saudável daqui alguns anos, pois seu esporte castiga muito o corpo e geralmente deixa sequelas naqueles que o praticam.
Tendo tudo isso em mente, agora te peço para responder às seguintes perguntas.
1 – Foi fácil, para você, tomar essa decisão de não participar de uma final tão importante e para a qual você se preparou muito?
2 – O que você responderia àqueles que acham que sua desistência foi um ato de fraqueza, covardia ou egoísmo?
Se você puder e quiser, compartilhe com a gente aqui nos comentários como foi essa experiência e nos diga se esse exercício te ajudou de alguma forma a ler as notícias e comentários sobre o caso da Simone Biles de outra maneira.
E como pensamentos finais, quero dizer que espero muito que o exemplo dado pela Simone Biles nos inspire a cuidar mais da nossa saúde mental.
Esse é um tema que tanto nos esportes, no trabalho e na vida particular geralmente ocupa um lugar de menor importância, como se apenas pessoas “loucas” ou “fracas” precisassem de ajuda. A forma como muitos de nós têm escolhido viver guarda muita semelhança com o esporte de alto rendimento. Em ambos existe perfeccionismo, excessos, competição e rotinas exaustivas, apenas para traçar alguns paralelos.
Não à toa, estamos vendo cada vez mais pessoas adoecerem nessas duas esferas. Recentemente vimos Naomi Osaka, jovem prodígio do tênis, desistir de um torneio por conta da depressão. Nas empresas, o número de afastamentos por ansiedade, depressão e burnout aumentou significativamente. Acho que Simone fez o que muitos não conseguem fazer: estabelecer limites e se colocar em primeiro lugar. Talvez por isso ela tenha incomodado algumas pessoas com essa atitude. Incomoda ver alguém fazendo aquilo que, inconscientemente, talvez gostaríamos de fazer também.
Imagem capa: Wikimedia Commons