Um negócio que revolucionou minha vida foi aprender que somente eu sou responsável pelo que eu sinto. Os outros (outras pessoas/mundo externo) são estímulos mas não a causa dos meus sentimentos.
Uma prova disso é que eu posso passar pela mesma situação em diferentes momentos e sentir sentimentos diferentes. Gosto bastante do exemplo da fila do supermercado. Se eu estiver super cansada em uma quarta-feira à noite e for fazer compra em um supermercado lotado eu provavelmente vou ficar irritada, e se a mulher do caixa demorar um minuto a mais do que o normal a chance de eu ficar estressada é bem grande…
Se por outro lado eu estiver tranquila , relaxada e sem pressa, a mesma fila de supermercado talvez não tire um centímetro da minha paz.
O nosso mundo interno determina muito mais do que vamos sentir do que o mundo externo. O mundo externo é o estímulo mas o interno é o que define os sentimentos. Esse é um dos princípios teóricos da CNV.
Se esse conceito faz sentido pra você então logo você vai perceber que é bem esquisito dizer “estou irritada porque essa mulher do caixa é lerda”.
Também na CNV, dizemos que um sentimento está sempre atrelado a uma necessidade. Apontar nossa necessidade é um processo de autoconhecimento bastante libertador pois saímos do julgamento dos outros para entrar no nosso mundo interno.
Então, se temos interesse em investigar esse mundo, faz muito mais sentido dizer “eu estou irritada nesse supermercado porque eu estou cansada” ao invés de botar a culpa pelo que você sente na pobre mulher do caixa.
Assim, você traz a consciência para você.
Ao mesmo tempo não faz sentido dizer que meus sentimentos e necessidades são MEUS.
Ok. O texto pode ficar um pouquinho mais confuso daqui pra frente e estou compartilhando sem pretensões de falar que é assim que funciona e pronto. Só estou querendo provocar quem está lendo com essas reflexões que tomaram conta de mim esses dias.
Se nós fôssemos donos dos nossos sentimentos e necessidades eles só apareceriam quando nós permitíssemos que eles viessem.
Na minha experiência não é bem assim que acontece.
Os sentimentos e necessidades simplesmente brotam, mesmo quando eu não quero. E muitas vezes eles não vão embora, por mais que eu queria também.
E você? Você quis ficar com medo todas as vezes que teve medo? Um dia antes de algo importante você pediu, vem medo, vem em mim, por favor! Certamente não. Aposto que ele apareceu mesmo sem você querer, certo? Esse é o ponto. Não somos don@s dos nossos sentimentos…
O que não quer dizer que somos reféns deles também. A partir do momento que eles surgem podemos lidar com eles de diversas formas.
“O exercício de reconhecer meus sentimentos e necessidades é libertador, ele é o primeiro passo para eu me conectar comigo mesma. Recomendo.”
Uma outra forma de lidar com os sentimentos segue uma linha mais espiritual. Essa, eu integrei de fato na minha vida recentemente:
Passei os últimos 4 dias em um retiro de meditação budista. Em um determinado momento enquanto estava meditando percebi que estava ansiosa. Legal. Reconheci isso pra mim mesma “existe ansiedade aqui” e em seguida falei a frase que o instrutor nos sugeriu usar “let it go…” ( deixa ir…)
Falei o “let it go” esperando que a ansiedade fosse embora, mas ela não foi. Na verdade, ela decidiu ficar ali comigo por um bom tempo ainda. Vi que eu não poderia fazer nada, a ansiedade simplesmente estava ali. Fiquei incomodada. Depois de um tempo lutando contra ela decidi mudar de frase e falei para mim mesma “quer saber? let it be” (deixa ser)
Nem percebi que horas ela passou, nem foi durante a meditação, foi depois. Mas passou.
Estou agora muito tranquila escrevendo tudo isso. Let it be. Não sei de onde veio essa tranquilidade mas sei que ela também vai passar.
Existem outras formas de lidar com nossos sentimentos, algumas práticas muito difundidas no ocidente nos fazem acreditar que podemos controlar nossos estados emocionais. Acho que elas são úteis também, mas cada vez mais me interesso menos por elas.
Porque acho que elas são úteis em momentos específicos da vida. Quando, por exemplo, preciso me colocar em um determinado estado emocional para fazer uma palestra, utilizo as tais das âncoras emocionais do coaching. Costuma ajudar.
Mas no fundo, olhando para o tanto que conseguimos de fato controlar a vida vejo que essas técnicas a la Tony Robbins carecem de sabedoria para viver uma vida plena. Qualquer coisa que me faça acreditar que eu posso controlar minha vida não me passa de uma ilusão. E nossas mentes ADORAM a ilusão da certeza.
No final, somos parte da natureza, e ela simplesmente acontece. O que ela pede de mim é consciência, não controle. Nossos sentimentos são essas ondinhas quebrando… Sem motivo.