Súrya tenta fazer tudo da melhor forma que pode. Pequenos gestos de gentileza fazem parte do seu dia-a-dia. Com simplicidade, anda, na maioria das vezes, com a cabeça baixa catando lixo no chão. Sempre segura a porta para outras pessoas entrarem e dá lugar para os outros sentarem. Mas, é quase impossível para ele, não ficar triste com tantas injustiças que vê.
Ainda assim, acredita – e repete todos os dias – que só acontece o que deveria acontecer. Pode soar um pouco conformista ou até egoísta esse olhar. No entanto, Súrya tem certeza que, mesmo as pequenas coisas, só acontecem do exato jeito que devem ser. Para o nosso bem. Uma oportunidade de aprender e seguir em frente. Ele também acredita que ninguém entra na nossa vida por acaso. Então, está sempre atendo àqueles que cruzam seu caminho. Não quer perder a chance de ajudar já que todo momento é certo para iniciar algo.
O mais difícil para Súrya é aceitar que quando algo termina, termina de fato. Outro dia, cismou de ajudar a Dona Antonia, da padaria. Ele se ofereceu para ensiná-la a ler. Afinal, como alguém pode nos dias de hoje não saber ler? Bom, tanto fez que convenceu a Dona Antonia. Ela ia mais cedo para os lados do trabalho só para poder encontrar Súrya e começar a aula. Aulas que duraram exatos oito dias, um caderno de 50 folhas e o resto da autoestima da Dona Antonia. Por ela, teria desistido no dia 1, mas Súrya não queria se dar por vencido. A intenção até era boa, só que, naquela altura da vida, Dona Antonia queria apenas contar os meses para se aposentar. Mesmo que as ações devam ser julgadas de acordo com as intenções, ele se convenceu que não estava ajudando a Dona Antonia quando lembrou que uma boa ação é aquela que faz parecer um sorriso no rosto do outro. E, definitivamente, ela só voltou sorrir de alívio depois que as aulas acabaram.