Ubaldim aprendeu a dançar desde a barriga de sua mãe, que saia de baiana na escola de samba do lavapés, e seu pai que tocava saxofone e berimbau nas bandas no carnaval de rua. Os dois, pai e mãe, adoravam o carnaval, vai ver por isso que Ubaldim já sambava na barriga. O menino nasceu, e entre uma feira e outra, um carnaval e outro, foi crescendo e aprendendo o balanço que o corpo fazia a cada batida. Aprendeu a dançar de tanto que acompanhava a mãe na escola de samba e o pai nos salões de baile. Ainda lembra do dia em que seus pais ganharam um concurso de dança chamado lata d’água na cabeça. Não tinha lata na cabeça, mas tinha muita dança. Ficou espiando com seus irmãos e parecia que eles deslizavam pelo salão.
Aprendeu com seu pai a passar a brilhantina (uma pasta parecida com gel) nos cabelos, ilustrar os sapatos de duas cores, colocar o suspensório (um elástico para segurar as calças) e sair bem ajeitado e cheiroso para dançar. Gostando muito de observar os dançantes, Ubaldim sempre dizia:
“Cada música dá vontade de mexer uma parte do corpo. Tem aquelas que a gente fica feliz de mexer só a cabeça, ainda mais quando não sabemos cantar; tem outras que mexemos só o ombro quando achamos que não vamos conseguir entrar no ritmo; mas tem aquelas que nos fazem mexer o corpo todo, parece até que a gente dança mesmo sem querer.”
Ubaldim é um grande contador de histórias, adora fazer rimas nas rodas de capoeira e quando tem um tempinho gosta de sentar na praça para fazer um samba de improviso e lembrar das músicas, das comidas, dos amigos e das brincadeiras de outros tempos. É também curioso das brincadeiras de agora. Outro dia encontrou os netos que brincam do mesmo jeito que ele, mas só mudaram o nome das brincadeiras. Ele achou curioso, porque lembrou que costumava brincar de adedanha ou adedonha, enquanto tem gente que brinca de stop. Ele sempre “escrevinhava” no papel, mas agora minha neta faz essa mesma brincadeira pelo “tabeti” e como ele ainda não sabe entrar no jogo virtual, fizeram um trato: ele ensina capoeira e ela ensina as tecnologias.
Às vezes, ele tenta ensinar umas danças diferentes tipo gafieira, valsa ou o samba rock, mas os “netim” não querem saber dos bailes. Sua “fias” sempre vão com ele dançar e correr o salão todo dançando, e assim ele as apresenta aos amigos do salão. E esse ano Ubaldim vai comemorar seu aniversário no Sonho de Cristal, o melhor baile da cidade e quer ver como os danadinhos dos netos vão se sair na pista de dança.