Sou cientista e me encanto quando surgem dados que ameaçam ou quebram algum paradigma vigente. Outro dia descobriram que metade das nossas plaquetas são produzidas pelos pulmões. Pelos pulmões?! Como assim?!
Por causa desse encanto, resolvi ler Against Empathy ( Traduz Contra a Empatia), um livro de Paul Bloom que critica a empatia. Um dos pilares do meu trabalho como palhaço e educador é justamente a empatia, então fiquei curioso para saber como o autor propunha uma quebra ao meu próprio paradigma pessoal.
Tentei ler o livro sem o objetivo de concordar ou discordar do autor. Fui de mente aberta.
Para mostrar a importância do assunto, o autor chama atenção para a quantidade de livros, artigos, cursos, vídeos e programas que tratam do tema empatia. São muitos, mesmo. Mais do que muitos, o autor sugere que esse número seja demais, um exagero levemente sensacionalista dos defensores da empatia.
Não sei avaliar se fala-se exageradamente sobre empatia. Por um lado deve sim haver cursos ruins e livros caça-níqueis, que pegam carona na moda empática que se criou. Por outro, me parece justo que exista essa moda, uma vez que ela lida com um problema atual , que influencia muitos aspectos: da qualidade da relação entre um casal, a eficácia da educação infantil, o impacto de apresentações corporativas, chegando ao nível das decisões em políticas públicas, que podem definir, por exemplo, o início ou fim de uma guerra.
“Por um lado deve sim haver cursos ruins e livros caça-níqueis, que pegam carona na moda empática que se criou”.
Enfim, o tema é importante e está na moda. E o título do livro é Against Empathy , o que, por si só, já é polêmico.
Embora Paul Bloom não tenha nada contra uma parte mais racional, intelectual e lógica da empatia, o autor critica essencialmente um componente emocional da capacidade empática. Segundo ele, se nos guiarmos pelos sentimentos que compartilhamos ao encontrar outra pessoa em sofrimento, temos a tendência a tomar decisões equivocadas a médio e longo prazo.
“Segundo ele, se nos guiarmos pelos sentimentos que compartilhamos ao encontrar outra pessoa em sofrimento, temos a tendência a tomar decisões equivocadas a médio e longo prazo.”
Em um de seus exemplos, Bloom sugere uma situação em que poderíamos compartilhar o sentimento de angústia de alguém que precisa urgentemente de um transplante e, por causa desse sentimento, pode-se tomar uma decisão de passar essa pessoa para os primeiros postos da fila de transplantes, amenizando, assim, seu sofrimento. O autor critica o fato de que, nesse cenário hipotético, guiar-se exclusivamente pelo componente emocional trará conforto a uma pessoa, mas injustiça às várias outras que também estavam na fila.
Esse exemplo (o livro tem vários), no mínimo, me fez pensar e formular várias questões:
Por que os exemplos de empatia são sempre com alguém em sofrimento?
Não é interessante um exercício empático com quem está no poder?
Por que uma equipe médica teria empatia apenas por um paciente da fila de transplantes e não pelos demais?
Existe alguém que age apenas pelas emoções sem consultar a razão?
Em vários momentos o livro me levantou muitas perguntas, algumas inéditas. Então, só por este ponto de vista, já valeu a pena.
Da metade para o final do livro, entretanto, fui tendo uma dificuldade de continuar lendo, foi difícil. Talvez fosse porque o autor já parte de uma opinião com a qual eu não concordo? Mas quem é ele para mexer na minha sagrada empatia? Insolente… –
Ao ventilar essas hipóteses, confesso que me senti um pouco charlatão. Eu, que prego constantemente a escuta e o interesse pelas diversas opiniões que existem, mesmo que elas sejam contrárias às suas, não era capaz de fazer isso? Logo eu que comecei a ler o livro tentando não concordar ou discordar? Que vergonha.
Desmanchei namoro com o livro e reatei algumas vezes. Éramos Ross e Rachel, do seriado Friends. – We were on a brake!
Em uma dessas reconciliações, tive outra visão, mais clara, do motivo de estar tão difícil terminar o livro. Não era exatamente o conteúdo, mas a forma. Era o texto. Repetitivo, seco, cheio de quinas e arestas. Achei o texto… chato. Como uma aula sobre um assunto muito legal, mas com um método… chato.
Pra mim isso foi um desserviço ao tema da empatia. Assim como na ciência, quanto mais informações diferentes, e por vezes conflitantes, existem sobre um tema, mais rico e completo ele se torna.
Against Empathy poderia ser um belíssimo contraponto ao coral elogioso que a empatia possui, mas é difícil fazer frente a um paradigma sendo, bem, chato.