Uma desabafo sobre relacionamentos homoafetivos

Eu já me apaixonei algumas vezes por mulheres hétero. E vendo essa história do Viny com Eli me fez lembrar de como me senti em algumas delas.

Pra entender melhor: todo mundo da casa do BBB 22 diz que o Viny, que é gay, está afim do Eliezer. O Eli é o pegador geral, já transou com a Maria e com a Natália, e já deu uns beijos na Lina. Viny nega que esteja afim dele. Mas o fato é que, de alguma maneira, existe uma relação de intimidade; eles dormem juntos na mesma cama, Viny deita no peito do Eli e recebe cafuné… Sabe? Esse tipo de carinho que é massa, mas que é super confuso ao mesmo tempo?

Eu não sei o que se passa na cabeça do Eli nem do Viny, mas sei de mim. Fui afim de meninas que beijavam meu pescoço, deixavam bilhetinhos e poemas escondidos para mim, me encoxavam dançando numa festa, mas no final não queriam nada comigo.

É muito doido quando a pessoa gosta de você, é toda carinhosa, mas no final do dia não fica com você. Em algumas situações que vivi tive certeza que não ficamos exclusivamente pelo fato de eu ser mulher.

Óbvio que sei que não é simples. Eu mesma quando comecei a ficar com mulheres tive uns bugs na cabeça. A sociedade é preconceituosa pra caramba e esse preconceito guia também nossas escolhas. Então, claro que eu consigo compreender que não é simples assumir um desejo homoafetivo.

E sempre que estava mal com isso também tentava pensar que essa desilusão não acontece só comigo. De alguma maneira, sofrer por estar apaixonada é algo que é comum para todo mundo. As pessoas hétero não estão imunes à rejeição pelo fato de serem hétero. Tem tantos outros fatores que atravessam nossos afetos. A própria Natália do BBB 22, que é hétero, já passou por tanta coisa em relação aos homens da casa. São muitos os recortes que fazem a gente se atrair ou rejeitar alguém (e, no caso da Natáli, tem todo um lance muito forte da solidão da mulher negra).

Enfim, sempre que estive afim de alguém que não queria ficar comigo pelo fato de eu ser mulher (porque eu sabia que não era por nenhum outro), eu pensava todas essas coisas para não cair num buraco.
Ao mesmo tempo, hoje penso que teria sido bom pra mim que a postura das pessoas fosse um pouquinho diferente. Essa coisa de ser toda carinhosona, abraçar, beijar e depois não ficar é confusa pra cacete. Mas aí, o que fazer, né? Pô, eu acho bacana que o Eli tenha esse carinho pelo Viny, ainda mais num mundo tão homofóbico. Mas a gente, quando fica afim de alguém, se alimenta dessas migalhas. Aí vai cultivando uma expectativa muito louca de uma hora rolar, mesmo negando isso o tempo todo para quem especula sobre nossos sentimentos.

E eu acho que as pessoas hétero que percebe quando uma pessoa LGBT tá afim delas ficam meio sem saber o que fazer. Uma coisa boa de fazer é falar sobre o elefante branco, sabe?

Chamar para um papo, falar sobre o que está rolando. Imagine se Eliezer falasse pro Viny: “Não sei como você está com tudo isso que o pessoal está dizendo. Tenho esse carinho enorme, e não sei o que ele significa pra você. Mas sei o que ele significa para mim. Não quero te deixar confuso estando próximo, e não quero me afastar em vez de ter essa conversa. Então, eu quero que você saiba que o que eu quero é nossa AMIZADE. Eu sei que você diz que não tá afim de mim, mas eu só queria ter certeza de que você não está sofrendo. Tô viajando falando isso ou esse papo é também importante pra você? Tem algo que seja melhor eu fazer diferente?”

E é claro que hoje em dia, mais madura e segura, eu percebo que esse papo pode ser iniciado por quem tá todo confuso também. Nas minhas últimas paixonites foi algo fundamental de fazer para que eu mesma me cuidasse emocionalmente. Mas é algo difícil de fazer, porque quando você tá afim de alguém, você tenta prolongar a sua esperança de que a pessoa está afim também. Mas, ao mesmo tempo, no caso de uma pessoa LGBT, existe ainda um constrangimento de não ser correspondida por alguém que “jamais” ficaria com você – como o próprio Viny falou no programa, que não quer ser colocado nesse lugar em toda essa especulação da casa sobre seus sentimentos.

E, de verdade, se o Viny não estiver mesmo afim do Eli, e seja essa a amizade deles, que demais dois homens poderem ser amigos assim. Enfim, pensamentos de uma manhã de sábado!

*Imagem da capa: Reprodução Big Brother Brasil / gshow

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