Confesso que, até bem pouco tempo atrás, o termo ‘mulher migrante’ me assustava um pouco. No meu imaginário, remetia a algo no sentido de ‘mulher refugiada’ e/ou em situações com uma carga emocional um pouco pesada, talvez pelo fato de ter crescido ouvindo histórias sofridas de minhas bisavós, que foram mulheres migrantes no Brasil e tiveram muita dificuldade de se adaptar à nossa cultura.
Após conhecer Carlotas, e ter tido a experiência de participar de um Ich Bin Dabei, que em alemão significa ‘eu quero ser incluída’, para mim tudo mudou, e hoje, entendo (e aceito) que me tornei uma mulher migrante: uma brasileira, vivendo na Alemanha – e felizmente, numa situação bem mais favorável que a de minhas antecessoras, afinal, hoje existe Carlotas, um projeto de impacto positivo que busca inserir a mulher migrante para o centro da sociedade alemã, respeitando e valorizando a história de cada uma delas.
Em um mundo tão globalizado onde experiências internacionais costumam ser ‘gourmetizadas’ e tudo parece tão mais simples do que realmente é, uma vez que sabemos que hoje temos a nosso favor tantas facilidades tecnológicas nas palmas das mãos para nos apoiar, como o google mapas, google tradutor, uber, waze, apple pay, cursos online, e até mesmo liberdade geográfica para trabalharmos de qualquer lugar do mundo, para qualquer lugar do mundo, a verdade é que não há tecnologia que possa fazer o processo de adaptação a uma nova cultura por você. É necessário viver na prática essa nova realidade e o fato de saber que não somos únicas e que não estamos sozinhas, faz toda a diferença.
O trabalho que @carlotas_mulheres\ oferece às mulheres migrantes é de extrema valia. Com o conteúdo intencionalmente escrito em alemão, e falado em português, é na medida ideal para, aos poucos, irmos nos familiarizando com a cultura local, num tom de voz suave aos nossos ouvidos. Proeza que somente uma mulher inspiradora como a Carla Dins, que se autodenomina brasileira na Alemanha e alemã no Brasil, é capaz de nos proporcionar de forma empática, convidativa e amorosa.
Só tenho a agradecer à Carlotas por nos oferecer esse treinamento online e gratuito, e deixar aqui o meu “vale a pena” para todas as mulheres que vieram parar aqui na Alemanha, independente dos motivos que as trouxeram para cá.
Nós saímos do treinamento com vontade de pertencer, e muitas, assim como eu, se sentem até mais encorajadas a começar a estudar alemão e explorar mais de perto as oportunidades que este país nos oferece.
Agora que sabemos que as oportunidades existem e o melhor, entendemos que tudo isso o que estamos vivendo é experiência e que não somente pode como deve ser inserida em nosso currículo, afinal, entendemos que migração é um processo e administrar todo esse processo é um trabalho, que deve ser respeitado e valorizado como qualquer outro que as pessoas têm orgulho de colocar em seus currículos.