Na sexta feira, 06/03, Carlotas visitou a Casa Florescer, no evento de comemoração de 4 anos do projeto. A Casa é um espaço de acolhimento de mulheres trans, com capacidade para acomodar cerca de 30 pessoas que moram no local para que elas, tendo acesso à uma rede especializada e participando das ações propostas, se emancipem, evoluam e consigam garantir minimamente seus direitos e conquistem autonomia. O local passou por uma reforma e está lindo, aconchegante e acolhedor.
Alberto Silva, o Beto, gestor da casa, nos apresentou uma moradora (preservaremos seu nome e sua identidade) e pedimos então que ela nos mostrasse a casa. Nada melhor que conhecer o espaço por meio do olhar e sentimento de quem vive no lugar!
Durante o “tour”, ela fez questão de ressaltar a importância dos espaços coletivos, como a sala de jantar, onde se encontram de noite para fazer uma refeição juntas, conversar e contar como foi o dia de cada uma. A hora do banho, é de grande importância e um ritual muito respeitado. Seguiu mostrando os espaços onde praticam exercícios físicos, como yoga, ginástica, entre outras atividades. A área é ampla e conta também com uma quadra onde acontece o futebol de homens trans aos domingos.
Para tentarmos entender a grandiosidade e importância do impacto que projetos como esse geram na vida dessas pessoas, é preciso conhecer a história delas, por onde passaram e a luta pela sobrevivência no Brasil, um país que, segundo o relatório da Transpec, tem o maior número de homicídios de pessoas trans do mundo.
Ela seguiu contando sua trajetória e nós, de Carlotas, ficamos tocadas, nem piscávamos ao longo do relato.
Ela conta que, o bullying na escola, as agressões físicas e verbais da família eram insuportáveis a ponto de fazer com que se sentisse mais segura morando na rua que dentro da sua própria casa e nos espaços onde frequentava. Sem oportunidade de trabalho e marginalizada pela sociedade, foi na prostituição que ela encontrou pessoas livres de preconceito, pessoas com quem conversar e se relacionar. A vida na rua foi tão dura e cruel que ela se viu perdida e questionando se essa era mesmo a sua verdade, sua identidade.
Foram tantas fases de altos e baixos até que encontrasse a Casa Florescer, onde vive há 3 meses. Nesse processo ela se reencontrou, aprendeu a se aceitar e se amar por meio de apoio psicológico, yoga, convivência, respeito, empatia e acolhimento.
Esse recomeço é um longo caminho a se percorrer, finalizar os estudos, entrar no mercado de trabalho são barreiras fundamentais a serem quebradas no mundo fora da casa. Por fim, ela pediu que essa realidade seja espalhada para que jovens sejam fortalecidos e tenham diferentes percursos de vida.
É imprescindível que trabalhemos para acabar com esse tipo de preconceito, repensar onde nos colocamos e onde colocamos o outro, que faz com que ninguém pertence a lugar nenhum. Somos únicos, cada um à sua maneira e é nessa singularidade que há riqueza, complexidade e sobretudo, a esperança!
“A casa Florescer, é um projeto que constrói pontes para que pessoas voltem a sonhar e acreditar em outras possibilidades na vida. Geralmente, as pessoas chegam muita fragmentadas diante de toda a estrutura social que vivem. Aqui conseguimos fazer uma articulação com vários seguimentos para que as pessoas consigam florescer e criar outras possibilidades na vida, afim de se reencontrarem e fazer dos seus sonhos algo real, concreto.” – Beto, gestor da Casa Florescer.
*Foto de Kyle.