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Vergonha alheia – O que aprendemos com ela

Em meu primeiro texto sobre a vergonha alheia, citei um estudo realizado pelos pesquisadores Dr. Sören Krach e Frieder Paulus, da Universidade de Marburg (Alemanha), no qual foi registrado pela primeira vez que, quando percebemos que alguém está passando por uma situação que nos parece constrangedora, nossa habilidade empática faz com que áreais do nosso cérebro associados à dor sejam ativados. Como um alerta, sentimos a “dor da vergonha” por aquela pessoa.

Indo mais a fundo em minha pesquisa, aprendi que a reação das pessoas que sentem vergonha alheia podem variar conforme sua cultura, seus valores e sua maturidade emocional. O que é vergonha alheia para um pode ser engraçado ou perfeitamente normal para outros.

Por exemplo, crianças riem mais facilmente quando vêem alguém levar um tombo, pois muitas vezes só enxergam o lado engraçado da queda, sem compreender que aquele acidente pode realmente ter machucado a pessoa que o sofreu. O que lhes falta é experiência de vida. Neste caso, cabe a nós, adultos, economizar a bronca à criança e descrever a situação, pra que ela tenha a chance de se colocar no lugar da pessoa e aprender.

Pesquisas demonstram que, em determinadas circunstâncias, a vergonha alheia se assemelha à compaixão, pois nos leva a atitudes pró-sociais – quando agimos com o objetivo de minimizar a dor da pessoa que está gerando a situação. Ao mesmo tempo, há pessoas que ficam imobilizadas e tentam trocar de cenário, por exemplo, fechando os olhos, deixando o local do acontecimento etc.

Faça o teste. O que você sente e como você reage quando:

>> Alguém dá risadas em um velório,

>> Uma pessoa fala alto ao telefone dentro do ônibus,

>> Uma mulher elegante passa com algo estanho preso no cabelo,

>> Uma modelo cai num desfile de modas,

>> Um macaco é votado para prefeito de uma cidade,

>> Alguém dança exoticamente em uma festa,

>> Vê um executivo com uma gravata do Pato Donald?

Se fizermos essas perguntas a mais de uma pessoa, veremos que haverá uma diversidade nas respostas, o que nos remete novamente à importância de compreendermos o outro antes do julgamento. Após 30 anos de pesquisa, o neurocientista Richard J. Davidson nos ajuda a entender porquê as pessoas podem reagir de formas distintas ao mesmo fato em seu livro “O estilo emocional do cérebro”.

Quando sentimos vergonha alheia, estamos de frente a uma oportunidade de desenvolvermos nosso autoconhecimento e nossa habilidade empática. Neste momento, devemos nos perguntar o que está desencadeando tal reação. Perceberemos que, na maioria das vezes, ela será a diferença entre o acontecimento e o padrão cultural ao qual pertencemos. Cantar em um velório pode ser vergonhoso àqueles que cultuam o choro. Usar blazer roxo pode ser perfeitamente normal em alguns países e estranho em outros. Falar alto demais em público, pode ser um sinal de surdez. E dançar freneticamente pode ser simplesmente a expressão corporal de alguém livre e feliz. A professora do INSEAD Erin Meyer mostra como compreender sua cultura em relação a outras no interessante livro “The culture map”.

Portanto, chego à conclusão de que sentir vergonha alheia pode nos ensinar não somente a evitar situações constrangedoras, como também a rever nossos próprios valores e expectativas. E, se formos além e usarmos nossa empatia, podemos nos tornar pessoas mais atentas e melhores, evitando essa dor.

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