Santi era um menino muito determinado que morava numa cidadezinha pequena mas sonhava ir para a capital. Ele acordava diariamente “com o galo” pra ir de ônibus fretado para a escola na cidade vizinha.
Apesar de bom escritor, Santi queria estudar mecatrônica e, pra mim, ele era o gênio das equações! Todas as vezes que meu cérebro empacava num exercício de matemática ou física, era só perguntar pro Santi e ele resolvia detalhadamente, numa folha do seu caderno. Ele era tão tímido, que nem conseguia me falar como fazer o exercício. Era só por escrito mesmo.
Seus olhos eram pequenos, o que parecia uma proteção. Acho que para que ninguém pudesse ver onde ele estava olhando. Ou será que ele estava dormindo? Pode ser…. Devia ter muito sono por acordar tão cedo.
Ele trazia uma bondade infinita em seu coração, disso eu não tenho dúvida. O que ele não expressava em palavras, ele escrevia. Às vezes, em japonês, que era a língua que ele falava em casa. Mas eu não me importava, pois sentia que era algo positivo.
Todos os dias, ele desenhava algo pra mim. Seus traços criativos eram tão impecáveis quanto seu raciocínio lógico e seu dom com as palavras. Eu tinha uma admiração enorme por aquele menino humilde e corajoso. Determinação era sua maior virtude. Madrugada após madrugada, ele ia se preparando para alcançar seu objetivo. No final daquele verão, ele já não pegava mais o fretado dos trabalhadores rurais, mas sim, o Cometão pra Cidade Universitária, que se tornou seu novo sítio. Nunca mais o vi, mas também não o esqueci.
O Santi seguiu seu caminho. Até hoje guardo seus desenhos, pois eles me recordam que tive um amigo que não falava, mas se comunicava comigo.