A “vergonha alheia” é uma experiência empática

Vergonha alheia dói!

Vivo fora do Brasil há quase 15 anos. Talvez por isso seja mais sensível a variações no vocabulário de amigos e familiares que ficaram na Terrinha. Uma expressão que está em alta e eu acho muito curiosa é a colocação da palavra “super” antes de verbos, como por exemplo: “eu super concordo”.

Há algum tempo, tenho notado o uso regular da expressão “sentir vergonha alheia”. Curiosa, e acreditando ter alguma ligação com a empatia, fui pesquisar qual seria a definição deste sentimento, como ele ocorre e porquê os brasileiros a estão utilizando com tanta frequência. * Segundo a psicóloga texana Brené Brown, pesquisadora da “vergonha” há mais de 20 anos, a vergonha tem uma relação direta com a imperfeição. Brené explica que, a partir do momento em que um comportamento ou acontecimento não corresponde ao que é considerado perfeito dentro de um padrão social, tornamo-nos vulneráveis e podemos experimentar a vergonha. Alguns exemplos são: gaguejar ao fazer um discurso, vestir uma roupa inadequada à ocasião, chamar atenção quando se quer ser discreto, errar o nome ao se referir a uma pessoa importante, entre muitos outros que vivenciamos no nosso dia-a-dia.

A vergonha alheia acontece quando há algo imperfeito, fora do lugar, desajustado no comportamento de alguém. Algumas situações bastante comuns: um colega com sujeira entre os dentes em uma reunião de trabalho, alguém que ri debochadamente no trem, uma pessoa num concurso de música que faz qualquer coisa melhor do que cantar. Quando percebemos que alguém, propositalmente ou não, está se expondo ao que consideramos ridículo, sentimos “vergonha alheia”. Isso significa que nossa habilidade empática faz com que areais do nosso cérebro sejam ativados que, curiosamente, são os mesmos do que quando empatizamos com alguém que tenha se machucado e esteja sentindo dor física ou moral. Poderíamos concluir, portanto, que sentimos a “dor da vergonha” de outra pessoa, mesmo que esta não esteja ciente de sua “imperfeição”. A vergonha alheia pode até, em determinadas circunstâncias, ser comparada à compaixão, pois ela pode nos levar a atitudes pro-sociais – quando agimos com o objetivo de minimizar a dor da pessoa que está gerando a situação.

No Brasil, a expressão “vergonha alheia” é mais procurada e utilizada nas mídias digitais do que em países como Alemanha (“Fremdschämen”) e Estados Unidos (“vicarious embarrassment”). Segundo análise no Google Trends, enquanto que nestes últimos, não há referências suficientes para um resultado estatístico, vemos no Brasil um fenômeno social, pois os picos de busca na Internet remetem à abertura da Copa do Mundo de 2014, quando o termo aparece associado à performance de Claudia Leite com Jennifer Lopez e à derrota contra a Alemanha (“A Copa da Vergonha”). Da mesma forma, vemos que o brasileiros vivenciam mais “vergonha alheia” em épocas de instabilidade política.

A má notícia é que, além da luta diária de muitos Brasileiros, tudo indica que eles ainda estejam sofrendo a dor causada pelo “pão e circo” (política e futebol).

A boa é que “vergonha alheia” também é uma experiência empática que ensina algo ao nosso cérebro que nos servirá de alerta, como por exemplo, checar duas vezes se o zíper da calça está fechado ao sair do banheiro.

Leia neste artigo o que mais podemos aprender com a vergonha alheia.

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