Os jovens e o desafio da vulnerabilidade

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Como professora há mais de 12 anos, minha jornada me permitiu observar de perto a dinâmica delicada que envolve a adolescência. Agora, como formadora de professores(as) e educadores(as), meu olhar se ampliou, buscando entender não apenas o que acontece dentro da sala de aula, mas também as complexas camadas que envolvem os jovens fora dela.

É uma realidade que muitos dos(as) nossos(as) adolescentes e jovens buscam desesperadamente por visibilidade, mas frequentemente se veem perdidos diante de suas próprias inseguranças e medos. A vulnerabilidade é uma constante, e é durante essa fase do desenvolvimento que ela se manifesta de maneira mais desafiadora. Os jovens precisam não apenas ser vistos, mas também compreendidos em sua totalidade.

Eu fico abismada quando encontro em nossos registros imagens que representam exatamente não só o que estamos estudando nos livros e artigos, como nas ações e oficinas dedicados a adolescentes e jovens. 

Nessa foto reproduzimos uma cena que vemos constantemente nas escolas que visitamos: alunos e alunas encapuzados(as), mesmo em um dia que não está fazendo frio. Me lembrei dessa passagem da Brené Brown em seu livro “A coragem de ser imperfeito”.

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“A desconfiança e a frieza são comuns no ambiente das escolas. Todos os alunos no colégio da minha filha usam casaco com capuz todos os dias (mesmo se estiver fazendo 35 graus do lado de fora). O capuz não apenas funciona como escudo contra a vulnerabilidade por ser um acessório descolado, mas estou certa de que a garotada o enxerga como um manto de invisibilidade. Os jovens literalmente desaparecem dentro do casaco. É uma maneira de se esconderem. Com a cabeça sob o capuz e as mãos no bolso, eles se isolam de qualquer envolvimento. Frios demais para se importarem.”

Assim como a Brené Brown relata acima, parei também para observar e refletir que o capuz se torna verdadeiros escudos invisíveis e uma busca constante dos jovens por proteção.

Essa busca por proteção contra a vulnerabilidade não se limita somente à juventude. A pesquisadora e escritora nos revela dizendo que, na vida adulta, também podemos nos proteger da vulnerabilidade por meio da frieza. Não queremos que nos achem espalhafatosos, muito crédulos, preocupados ou ansiosos.

Não vestimos mais capuzes com a mesma frequência que os mais novos, mas podemos usar títulos, formação, origem e posição social como alças do escudo, desconfiança, crítica, frieza e crueldade.

Esses são diferentes artifícios para nos distanciar do desconforto emocional. Ou seja, construímos nossos próprios escudos contra a frieza do mundo ao nosso redor. Por isso, acredito que assim, como educadores(as), é fundamental estarmos atentos(as) não apenas ao que se passa em sala de aula, mas também aos sinais sutis que as crianças e os jovens nos enviam.

Somente ao reconhecer e acolher suas vulnerabilidades podemos verdadeiramente ajudá-los(as) a crescer e a se tornarem pessoas confiantes e seguras em si mesmas.

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